No próximo domingo, os brasileiros vão às urnas esolher seus representantes municipais. Para ajudar a decidir seu voto, reunimos alguns dados importantes sobre esse pleito que você deve saber
Por Vitória Régia da Silva*
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) conclui a assinatura digital e lacração dos sistemas eleitorais que serão usados nas eleições de outubro (José Cruz/Agência Brasil)
No próximo domingo, dia 15 de novembro, eleitoras e eleitores vão às urnas decidir quem comandará seus municípios no Executivo e Legislativo pelos próximos 4 anos. Em um contexto de pandemia devido ao coronavírus, a campanha eleitoral sofreu alterações e o discurso de ódio e a violência política se intensificaram nas redes sociais, afetando principalmente candidaturas e eleitores de grupos mais vulneráveis, como mulheres, pessoas negras, indígenas e LGBT+.
É neste caldeirão de informações e a partir do olhar sobre gênero, raça e sexualidade, que reunimos alguns dados que evidenciam o desafio que é a paridade de gênero e raça na política nacional para ajudá-lo em sua escolha. Todas as reportagens estão reunidas em generonumero.media/eleicoes2020.
1 - Representatividade das mulheres na política
Embora as mulheres tenham aumentado sua representatividade, os dados mostram que os desafios da paridade de gênero na política são enormes. No que classificamos como o deserto de candidaturas femininas, a partir de análise dos dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), identificamos que em 3.351 municípios nenhuma mulher concorre à prefeitura e apenas quatro deles têm alto número absoluto e proporcional de mulheres na corrida para o Executivo.
As mulheres são quase 180 mil candidatas e representam 34% do total de postulantes para a prefeitura e vereança. No pleito de 2020, o número de candidaturas femininas teve um aumento tímido: apenas 0,1% para candidaturas à prefeitura e de 1,3% para as candidaturas às câmaras municipais em relação a 2016, ano das últimas eleições municipais.
Quer saber quem são elas? Para ajudar você a encontrá-las, a Gênero e Número, em parceria com a ONU Mulheres, reúne pela segunda vez, em uma ferramenta interativa, todas as mulheres que são candidatas nestas eleições. Você pode encontrar sua candidata filtrando por estado, município, cor/raça e partido político.
3- Candidaturas negras e decisão do TSE
Os negros são 270 mil candidatos a prefeitos e vereadores, o que representa um aumento de 2,08% em relação a 2016. Apesar do pequeno crescimento, este número é um marco: pela primeira vez, a quantidade de negros superou a de brancos em uma eleição municipal: respectivamente 50% e 48%. Em 2016, brancos ainda eram maioria (51,5%).
No entanto, a desigualdade racial no pleito continua. Segundo levantamento da Gênero e Número a partir dos dados do Tribunal Superior Eleitoral, 64% dos prefeitáveis de todo país são brancos. Sendo que em em mais de um terço dos municípios, há apenas candidaturas brancas (38,6%), enquanto apenas 80 municípios apresentam só candidaturas negras (8,62%) e um município apenas candidaturas indígenas (0,02%).
Super-representatividade branca nas prefeituras do Brasil
Em apenas dois estados, a proporção de candidaturas brancas é menor do que a proporção de habitantes da mesma raça. Os candidatos brancos são 64% dos prefeitáveis de todo o país, incluindo municípios em que a população negra é maioria
0
50%
100%
% DE habitantes BRANCoS
% DE habitantes não-BRANCoS
brasil
% DE CANDIDATURAS BRANCAS
% DE CANDIDATURAS não-BRANCAS
A seta indica que existe uma % maior
de candidaturas brancas do que de habitantes brancos no Brasil. Quanto maior a seta, maior a diferença.
MS
ES
RJ
SP
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MG
CE
AL
PR
MT
PE
MA
RS
BA
GO
TO
SC
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PI
RR
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PB
AC e AP apresentam o número de habitantes brancos maior que o número
de candidaturas brancas
SE
AC
AP
fonte: tse
Super-representatividade branca nas prefeituras do Brasil
Os candidatos brancos são 64% dos prefeitáveis de todo o país, incluindo municípios em que a população negra
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A seta indica que existe uma % maior
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Quanto maior a seta, maior a diferença.
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AC e AP apresentam o número
de habitantes brancos maiorque
o número de candidaturas brancas
fonte: tse
Super-representatividade branca nas prefeituras
do Brasil
Os candidatos brancos são 64% dos prefeitáveis de todo o país, incluindo municípios em que
Este ano, a verba de campanha e a propaganda eleitoral em rádio e TV será proporcional à quantidade de candidaturas negras, segundo decisão tomada pelo Supremo Tribunal Eleitoral e pelo Supremo Tribunal Federal. A dificuldade de acesso de pessoas negras a recursos é uma dura realidade que pode impactar na eleição de mais pessoas negras na política. Segundo dados do estudo “Democracia e representação nas eleições de 2018: campanhas eleitorais, financiamento e diversidade de gênero”, da Escola de Direito da FGV, os homens negros formam o único grupo que recebeu menos financiamento nas últimas eleições para o legislativo. Eles foram 21% dos candidatos a deputado federal e receberam 16% dos recursos.
4 - Uso do nome social e candidaturas trans
2020 traz dois marcos para a população trans. O primeiro é negativo: nos primeiros oito meses do ano houve mais assassinato de mulheres trans do que todo o ano de 2019; o segundo, uma boa notícia: estas eleições municipais terão um recorde de candidaturas transgêneras.
São pelo menos 281 candidaturas pelo Brasil, sendo 27 candidaturas coletivas e apenas 2 para prefeitura e 1 para vice-prefeitura, segundo levantamento da Associação Nacional de Transexuais e Travestis (Antra), que continua sendo atualizado, um número 215% maior do que em 2016, quando houve 89 candidaturas e oito pessoas eleitas. A maioria está vinculada a partidos de esquerda (51%), mas 38,5% vão concorrer por partidos de direita, e 10,5% por partidos de centro.
O uso nome social pela primeira vez em eleições municipais é um avanço para a democratização do processo eleitoral, no entanto, ainda existem poucos dados do TSE sobre essas candidatura de pessoas trans e poucas pessoas trans eleitas a cargos do legislativo e executivo.
“[O nome social] é uma forma de garantir a participação efetiva de pessoas trans na disputa eleitoral. As pessoas cis usam o nome social [como mostra dados do TSE], mas é importante que as pessoas entendem que o nome social é uma política especifica para pessoas trans. Apelidos, codinomes, não são nome social. Falamos da importância do nome social, mas também da responsabilidade dos órgãos que utilizam o nome social como ferramenta de inclusão de pessoas trans, para que tenham cuidado na hora da análise desses casos.”, destaca Bruna Benevides, secretária de articulação política da Antra.
Jornalista formada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e pós-graduanda em Diversidade e Inovação Social pela PUC Rio. É diretora executiva da Gênero e Número, organização em que, há mais de oito anos, se dedica à cobertura especializada em gênero, raça e sexualidade, sempre guiada por dados. Também é conselheira da Ajor (Associação de Jornalismo Digital). Coautora do livro Capitolina: o mundo é das garotas (Ed. Seguinte) e colaboradora no livro Explosão Feminista (Ed. Companhia das Letras), organizado por Heloisa Buarque de Holanda.
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