Por Maria Martha Bruno*
Influenciadores do Congresso Nacional mantêm viva agenda moral nas eleições 2020
Dos 69 agentes de influência no Congresso Nacional, mapeados pela plataforma Religião e Poder, 40 estão em campanha e dez estão na disputa por algum cargo nas eleições 2020
A pouco mais de duas semanas das eleições municipais, os agentes de influência do Congresso Nacional estão engajados em aumentar ou manter seu poder em seus estados de origem. Nas redes sociais, em caminhadas ou a bordo de jatinhos particulares, a maioria deles está em campanha por apadrinhados ou familiares, e o apelo à religiosidade e aos assuntos de cunho moral se misturam com temas de zeladoria que caracterizam a disputa nas cidades.
São 69 parlamentares que se destacam pela alta capacidade de influência, agregação e alcance político nos temas relacionados a religiões, segundo levantamento realizado pelo Instituto de Estudos da Religião (Iser) e pela Gênero e Número, na plataforma Religião e Poder. Três deles estão fora do jogo: o senador Arolde de Oliveira (PSD/RJ), que morreu de covid-19 na semana passada; a deputada federal Flordelis (PSD/RJ), apadrinhada do falecido senador e que agora prega em templos vazios de tornozeleira eletrônica, e Marcão Gomes (PL/RJ), suplente de um parlamentar que reassumiu o cargo.
A atuação dos agentes de influência nas eleições municipais foi analisada de acordo com o que eles expõem em suas redes sociais. Enquanto a ampla maioria (50) está envolvida no pleito, os demais não expõem apoio explícito a nenhuma candidatura. No entanto, isso não significa que estejam alheios à eleição de 2020: Marco Feliciano (Republicanos/SP), da tropa de choque bolsonarista em Brasília, pede em suas redes: “Cristão que tem consciência do que é o seu voto não vota em ninguém que é do PT, PCdoB e PSOL”.
A maioria dos agentes de influência têm perfil semelhante ao de Feliciano: são homens brancos e evangélicos. Mas, na opinião de Magali Cunha, pesquisadora do Iser, é uma mulher quem mais se destaca no uso do discurso moral e religioso nas eleições 2020: Joice Hasselmann, candidata a prefeita de São Paulo pelo PSL. “Ela é uma mulher de comunicação. Não só aproveitou o apelido de ‘Peppa’, como fala de Deus e usa a Bíblia em uma linguagem que vai muito bem ao encontro dos grupos religiosos. É a candidata que tem feito o uso mais eficaz dessa linguagem”, analisa.
Cunha destaca que a deputada federal chegou a se apresentar como descendente de judeus, usando a aproximação com Israel cara aos evangélicos. Para a pesquisadora, a candidatura não decolou por causa do “fogo amigo” de Carla Zambelli (PSL/SP) e Bia Kicis (PSL/DF), companheiras de partido que continuaram na base do governo após a ruptura de Hasselmann com Bolsonaro.
Além da temática religiosa, assuntos como “ideologia de gênero” e o aborto, que não competem à legislação municipal, são recorrentes na campanha municipal. “A agenda moral segue viva. Desde as eleições de 2010 essas pautas insistentemente aparecem nas campanhas – nas eleições nacionais por serem temas de política federal, e nas municipais 2016 por causa do acirramento do fundamentalismo político-religioso”, analisa.
Influenciadores no Congresso e nas eleições municipais
Maioria dos parlamentares que se destaca pela forte atuação nos temas relacionados à religião está em campanha por apadrinhados ou familiares
40 Em campanha
10 Candidatos
19 outros
15 ad
9 iurd
7 Batista
11 outros
27 Católica
fonte Religião e Poder
Influenciadores no Congresso e nas eleições municipais
Maioria dos parlamentares que se destaca pela forte atuação nos temas relacionados à religião está em campanha por apadrinhados ou familiares
10
Candidatos
40
Em campanha
19
outros
27
Católica
15
ad
9
iurd
7
Batista
11
outros
fonte Religião e Poder
Influenciadores no Congresso e nas eleições municipais
Maioria dos parlamentares que se destaca pela forte atuação nos temas relacionados à religião está em campanha por apadrinhados ou familiares
40
Em campanha
10
Candidatos
15
ad
7
Batista
27
Católica
9
iurd
fonte Religião e Poder
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Apelo à família e contra "ideologia de gênero"
O deputado federal Otoni de Paula (PSD/RJ), outro dos dos principais nomes do Bolsonarismo no Congresso Nacional, faz campanha para que Otoni de Paula Pai conquiste uma vaga na Câmara do Rio de Janeiro, pelo Solidariedade. Diariamente, o candidato faz uma convocação de “jejum e oração pelo seu milagre” na sua página do Facebook. Pastor da Assembleia de Deus, Otoni de Paula Pai também faz uma live diária em que brada contra a “ideologia de gênero” e assevera: “Há quem aprove a interrupção da vida através do aborto. Só Deus dá e pode tirar a vida”.
Um dos principais agentes de influência do Congresso é o presidente da Frente Parlamentar Evangélica, Silas Câmara (Republicanos/AM), que, a bordo de um jatinho particular, chegou a visitar cinco municípios no Amazonas em um mesmo dia. A principal força do deputado federal, que está em seu quinto mandato, é justamente no interior, como mostrou reportagem do projeto “Reino Sagrado da Desinformação”, sobre o poder de Silas e da família Câmara. Assembleiano, Silas é um dos patriarcas da família que está no cerne da expansão de poder da Igreja no Amazonas e no Pará.
Já no Ceará, o líder nas pesquisas para a Prefeitura de Fortaleza e membro da Igreja Universal do Reino de Deus, deputado federal Capitão Wagner (Pros), faz a “Carreata pela família” esta semana: “Minha família é meu porto seguro. É bênção do Senhor! Vamos estar juntos na Carreata da Família. Será uma imensa alegria encontrar você e sua família lá”, disse ele, na convocação do evento.
Dinastia Zambelli em São Paulo
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Entre as 14 mulheres que fazem parte do grupo de agentes de influência do Congresso, apenas quatro são candidatas a prefeita, mas nenhuma delas, segundo as pesquisas mais recentes, tem chances de ir ao segundo turno. Principal antagonista de Hasselmann, Carla Zambelli (PSL-SP), da Igreja Evangelho Quadrangular, está em campanha em família. Ela apoia o irmão, Bruno, na busca por uma vaga na Câmara de Vereadores de São Paulo. No município de Mairiporã, Tatiana Flores Zambelli (PTB), mulher de Bruno, também busca uma vaga na vereança. O pai de Zambelli, João Hélio, é candidato a vice-prefeito na cidade pelo Patriota.
No Mato Grosso do Sul, Rose Modesto (PSDB) decidiu se recolher nas redes, após ser preterida por seu partido na disputa pela Prefeitura de Campo Grande. Os tucanos preferiram apoiar a reeleição de Marquinhos Trad (PSD). A campanha é liderada por outro agente de influência religioso: o deputado federal Fabio Trad (PSD), que tenta manter a hegemonia de sua família no estado. Seu outro irmão, Nelsinho Trad, foi prefeito da capital duas vezes. Os três são primos do ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta.
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Maria Martha Bruno é diretora de conteúdo da Gênero e Número.