Marília Campos (PT) foi eleita prefeita em Contagem, Minas Gerais | Foto: Divulgação

No segundo turno, nenhuma capital elegeu uma mulher para a prefeitura

Das 20 cidades onde havia mulher concorrendo, só  sete terão prefeitas a partir de 2021; em Palmas (TO), Cinthia Ribeiro venceu disputa para o Executivo municipal no primeiro turno

Por Flávia Bozza Martins e Vitória Régia da Silva*

Vitória Régia da Silva

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As mulheres eram candidatas à prefeitura em 20 cidades na disputa do segundo turno, mas foram eleitas neste domingo (29) em apenas sete. Nenhuma capital brasileira elegeu uma mulher. No total, elas serão 658 prefeitas (13%), contra 4.800 prefeitos (87%) pelo país, o que mostra que a representatividade feminina no executivo continua baixa. 

“É mais difícil eleger minorias sociais, como mulheres, ao cargo majoritário porque o sistema é menos propício para eleições de mulheres. Além disso, é necessário que a mulher tenha capital político e partidário construído ao longo do tempo. Sabemos que não é fácil conseguir isso; a estrutura social, o financiamento não ajudam nessa construção política das candidatas. As mulheres encontram muito mais barreiras, por isso, temos um resultado pior do que nas proporcionais”, destaca Karolina Roeder, cientista política e doutora em cientista política pela Universidade do Paraná. 

Para Roeder, o sucesso maior desta eleição foram os casos de mulheres que já estão na vida política há algum tempo, como Marília Campos, em Contagem (MG). As eleitas se concentram principalmente em Minas Gerais, onde as mulheres conquistaram as três prefeituras que disputavam. Marília Aparecida Campos (PT) foi eleita prefeita de Contagem em um pleito apertado, com 51% dos votos válidos. Ela já foi prefeita da cidade entre 2005 e 2012. O derrotado, Felipe Saliba (DEM), teve 49% dos votos.assine gifJá em Uberaba (MG), Elisa Araújo (SD) foi eleita prefeita da cidade mineira com 57% dos votos. Seu concorrente, Tony Carlos (PTB), teve 43% dos votos válidos. E em Juiz de Fora, Margarida Salomão (PT) foi eleita prefeita da cidade com 55% dos votos. O derrotado nas urnas foi o candidato do PSB, Wilson Rezato, com 45%. 

Ainda no sudeste, em Bauru, no interior de São Paulo, Suéllen Rosim (PATRIOTA) foi eleita prefeita da cidade com 56% dos votos. Rosim foi a única mulher negra entre as prefeitas eleitas. Seu concorrente, Dr. Raul,  teve 44% dos votos. Outra cidade paulista a eleger uma mulher, Raquel Chini (PSDB), foi Praia Grande. Ela derrotou Danilo Morgado (PSL), com 54% dos votos. 

Já no Rio Grande do Sul, Paula Mascarenhas, do PSDB, foi eleita prefeita de Pelotas com 69% dos votos, contra 31% de Ivan Duarte (PT). Um destaque neste pleito foi Ponta Grossa (PR), única cidade do país que tinha duas mulheres concorrendo no segundo turno. Professora Elizabeth (PSD) foi eleita prefeita do município com 52% dos votos. Mabel Canto, candidata do PSC, teve 48% dos votos válidos. A cidade terá a primeira prefeita mulher de sua história. 

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visu 2ª turno

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As prefeitas eleitas pertencem a diferentes espectros políticos, mas dois partidos têm uma maior presença: PT e PSDB, com duas prefeitas eleitas cada, seguido do Patriota, PSD e Solidariedade, com uma mulher de cada partido. Para Roeder, tem aumentado a preocupação com as questões de gênero e espera-se que as mulheres eleitas tragam essa demanda, mas “tem estudos que mostram que as mulheres têm parentesco com outros políticos; ainda existe no país essa socialização política das mulheres, que não necessariamente vem de movimentos sociais, embora tenhamos vários casos. Tem muitos casos de mulheres que estão em partidos de centro e direita por conta desse contexto”.

Nas capitais

Se houve mulheres eleitas à prefeitura em cidades menores no segundo turno, nas cinco capitais em que estavam na disputa, nenhuma venceu. O cenário de iniquidade continua, já que nos últimos 20 anos somente oito mulheres foram prefeitas em capitais do Brasil. A única prefeita eleita, ainda no primeiro turno, em uma das 27 capitais foi Cinthia Ribeiro, do PSDB, em Palmas (TO).

“Os estudos mostram que o eleitor vota em mulheres, não é essa a questão. São contextos diferentes, não acredito que o eleitor deixa de votar em mulheres por serem mulheres; nas capitais, a conjuntura que não possibilitou”, disse a cientista política. 

Neste pleito, duas capitais tinham mulheres liderando as pesquisas de intenções de voto: Porto Alegre (RS), com Manuela D’Ávila (PCdoB), e Recife (PE), com Marília Arraes (PT). Manuela chegou ao domingo à frente nas pesquisas; Marília, empatada com o adversário. As duas foram alvo de violência política  e fake news durante toda a campanha, especialmente no segundo turno.

Manuela, inclusive, optou por não exibir marcas tradicionais do PCdoB em sua campanha, como a foice o martelo que simbolizam o comunismo. Mesmo assim, precisou se manifestar contra uma notícia falsa que circulou nas redes sociais que a associava a uma campanha de Dia das Crianças com foto de foice e martelo de brinquedo.

Em Porto Alegre, Sebastião Melo (MDB) foi eleito prefeito com 55% dos votos e, em Recife, João Campos (PSB), primo de Marília Arraes (PT), teve 56% dos votos. 

“Tanto a campanha de Marília Arraes quanto da Manuela D’Ávila tiveram campanhas que  foram bem estruturadas. Em Recife, houve uma campanha extremamente negativa e de ataque com relação à candidata Marília Arraes e o PT. O PSB manda em Pernambuco, eles têm prefeitura e governo do Estado ao seu lado, então, pesou muito a força do PSB neste pleito”, destaca Roeder. 

Nas outras capitais, as mulheres também não conquistaram o cargo. No norte do país, a candidata do PP à prefeitura de Porto Velho (RO), Cristiane Lopes, perdeu com 46% dos votos válidos. O prefeito eleito do município é Hildon Chaves (PSDB), com 54%. A candidata Socorro Neri (PSB) foi derrotada por Tião Bocalom (PP) em Rio Branco (AC): 37% contra 63% dos votos. No nordeste, em Aracaju (SE), Delegada Danielle (CIDADANIA) perdeu o pleito com 42% dos votos. Edvaldo (PDT) foi eleito com 58% dos votos.

Derrotadas nas urnas

Treze prefeitáveis femininas não conseguiram vencer neste segundo turno, sendo sete no interior. São Paulo era o estado com mais candidatas, mas só duas foram eleitas. Solange Freitas, candidata do PSDB em São Vicente (SP), recebeu 44% e perdeu para Kayo Amado (PODEMOS). Já Flávia Lancha, do PSD, teve 42% dos votos e não foi eleita prefeita de Franca, no interior paulista. O prefeito da cidade será Alexandre Ferreira (MDB). 

Ainda em São Paulo, a candidata do PSB à prefeitura de Ribeirão Preto, Suely Vilela, foi derrotada por Duarte Nogueira (PSB), que teve 63% dos votos válidos. Loreny, do CIDADANIA, perdeu a disputa em Taubaté com 35% dos votos. Saud (MDB) foi eleito prefeito da cidade com 65%. Por fim, Jaqueline Coutinho, candidata do PSL à prefeitura de Sorocaba (SP), para Rodrigo Manga (REPUBLICANOS), que teve 53% dos votos. 

Já em Cariacica, no Espírito Santo, a candidata a prefeita Celia Tavares (PT) foi derrotada por  Euclerio Sampaio (DEM/ES), que foi eleito com 59% dos votos. Enquanto isso, na outra ponta do país, em Santarém (PA), a candidata Maria do Carmo (PT) foi derrotada com 41% dos votos. Nélio Aguiar (DEM) foi eleito prefeito do município.

*Flávia Bozza Martins é analista de dados e Vitória Régia da Silva é repórter da Gênero e Número

Vitória Régia da Silva

É jornalista formada pela ECO/UFRJ e pós graduanda em Escrita Criativa, Roteiro e Multiplataforma pela Novoeste. Além de jornalista, também atua na área de pesquisa e roteiro para podcast e documentário. É Presidente e Diretora de Conteúdo da Associação Gênero e Número, onde trabalha há mais de sete anos. Já escreveu reportagens e artigos em diversos veículos no Brasil e no exterior, como o HuffPost Brasil, I hate flash, SPEX (Alemanha) e Gucci Equilibrium. É uma das autoras do livro "Capitolina: o mundo é das garotas" [ed. Seguinte] e colaborou com o livro "Explosão Feminista" [Ed. Companhia das Letras] de Heloisa Buarque de Holanda.

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