Representada por mulher, Bancada Ativista busca eleição de mandato coletivo| Foto: Divulgação

NOVOS NOMES: “Não somos de forma alguma um grupo de pessoas iguais, o que temos são valores e lutas em comum”, afirma Raquel Marques, da Bancada Ativista

A newsletter Política 2018 traz a cada edição quinzenal o perfil de uma mulher que disputará as eleições pela primeira vez em outubro

Por Giulliana Bianconi*

  • 1. As bandeiras que Raquel abraça

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  • 2. A indissociável identidade de ativista nas ruas e nas redes

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  • 3. A busca pelo lugar “político”

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  • 4. O lugar de co-deputada: abrir mão nome na urna

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  • 5.  Financiamento

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Ela não vai ter nome na urna, mas será candidata. Ou quase isso. Raquel Marques se define como cocandidata e busca votos, junto a outros oito nomes, para eleger a Bancada Ativista para a Assembleia Legislativa de São Paulo. A Bancada estará representada nas urnas em outubro pelo rosto de uma outra mulher, Mônica Seixas, que caso eleita será parte de um mandato coletivo de nove pessoas. Não é trivial mesmo, mas também não é do outro mundo, como já mostrou a Gênero e Número.

Nesta 13ª edição do Política 2018 escolhemos ouvir Marques, a cocandidata. Durante a entrevista, ela afirmou mais de uma vez que a proposta da candidatura coletiva não foi construída em torno da figura ou do nome da Mônica, mas que no momento de registrar quem seria, sob as regras do Tribunal Eleitoral, a candidata na urna, o grupo concordou que Mônica era, sim, um rosto que representava uma convergência, por ser mulher (grupo ainda tão sub-representado na política brasileira), feminista negra e ter uma trajetória ativista. Marques, por sua vez, é sanitarista mestre em Saúde Pública e Saúde Materno-Infantil, doutoranda em Medicina Preventiva pela Faculdade de Medicina da USP, ativista da saúde e mãe de dois filhos. Atualmente, é presidente da Associação Artemis, aceleradora social focada na promoção da equidade de gêneros e no ativismo pelo parto humanizado. Lança-se à primeira corrida eleitoral, e está muito otimista sobre a possibilidade de a Bancada Ativista estar na Alesp em 2019.

1. As bandeiras que Raquel abraça

“Na Bancada Ativista temos três principais pautas, se definirmos assim nossas grandes ideias: a radicalização da democracia e participação popular, a redução de desigualdades de oportunidades, e nisso passamos fortemente pelo debate sobre acesso a serviços, e a implementação de políticas públicas já definidas, já criadas, mas não implementadas efetivamente. Porque muitas vezes o problema é esse. Nem tudo precisa ser criado do zero. Muita coisa importante existe no papel, como por exemplo a possibilidade de tratamentos com medicamentos naturais, por meio do SUS [Sistema Único de Saúde], mas se você for a muitas unidades de saúde onde isso deveria ser realidade, sequer existe. Nessa pauta, a da implementação das políticas de forma efetiva, temos muito a fazer no quesito mobilidade urbana, na saúde mental e na saúde do homem, para falar de algumas questões. E falo isso sem sair do meu lugar de mulher ativista que desde 2001 trabalha com saúde e direitos reprodutivos das mulheres.”

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2. A indissociável identidade de ativista nas ruas e nas redes

“Na bancada temos diversidade na representação [mulher indígena, mulher branca, mulher negra, mulher trans, homem branco, homem negro, pessoas de diferentes regiões do país] e temos essa identidade ativista, que é algo muito complementar e a base do que estamos construindo. A minha identidade como mulher ativista é uma construção longa, de já 17 anos. Eu já tive dois filhos, os dois nasceram em casa, e a violência obstétrica, assim como os altos números de cesarianas, estão nas minhas pesquisas. Agora, no doutorado, estou investigando como as políticas que são criadas não conseguem baixar o número de cirurgias [no parto]. E como co-deputada vou seguir desse lugar de pesquisadora para influenciar, ainda mais dentro do sistema político, as tomadas de decisão políticas a favor dos direitos das mulheres.”

[+] Leia também: “Eu tenho essa capacidade de diálogo, e minha campanha fala sobre isso”, afirma Tatiana Roque

3. A busca pelo lugar “político”

“Como co-fundadora da Artemis, ativista do parto humanizado, eu já tenho essa vivência na assembleia, pois nosso trabalho é corpo a corpo com os políticos também. Mas é verdade que eu sempre via com muita desconfiança esse caminho que seria o necessário a se traçar para chegar até uma cadeira, eleita. Eu sempre concordei que esse espaço é importante e precisa ser ocupado por mais gente, mas não me atraía o modelo ‘tradicional’. A Bancada [Ativista] me trouxe uma chance concreta disso, me pareceu um excelente projeto coletivo e um caminho legítimo, que fez todo o sentido. Desde o início do ano, pelo menos uma vez por semana as pessoas interessadas estiveram reunidas. Não somos de forma alguma um grupo de pessoas iguais, com as mesmíssimas pautas, o que temos são valores e lutas em comum, e isso nos leva a uma construção possível, que passa pela aplicação da sociocracia, uma metodologia que conta com rodadas de deliberação para avançarmos quando temos divergências.”

Raquel é um dos nomes que compõem a Bancada Ativista| Foto: Divulgação

4. O lugar de co-deputada: abrir mão nome na urna

“Havia a possibilidade de a Bancada Ativista ser maior do que é, com mais de nove nomes, mas houve mesmo quem não conseguisse lidar muito bem com essa invisibilidade, que de fato existe. A gente tem um projeto de mandato coletivo, acreditamos nisso e sabemos que é uma construção de confiança recíproca nossa com a Mônica [Seixas, a candidata registrada] e dela com a gente também. Mas é ela quem vai assumir e assinar como deputada. E ao mesmo tempo que isso é totalmente disruptivo, é um exercício de entender que para muita gente seremos um grupo de assessoras e assessores, mesmo que a gente atue, internamente e publicamente, de forma coletiva. Há pessoas que alertam que o ‘poder pode subir à cabeça’. Olha, entendo que existem muitos desafios e esse não seria uma preocupação nossa agora, não temos porque pensar dessa forma até o momento.”

[+] Leia também: Outros perfis de candidatas na página Política 2018

5.  Financiamento

“Financiamento é uma questão estrutural. Campanhas dependem, e muito, de dinheiro. Existem formas mil de fazer campanha, mas sem dinheiro ainda não existe a possibilidade de eleição, e por isso estamos fazendo uma campanha de financiamento coletivo, que até o momento já arrecadou um pouco mais de R$ 60 mil . Pela divisão dos fundos aos quais o PSOL vai ter acesso, a nossa candidatura ficou com R$ 5.800. Para você ter ideia, apenas o contador nos cobrou R$ 4 mil pra fazer a prestação de contas, que é obrigatória. Mas a gente sabe que dentro do partido essa distribuição precisa ser feita de forma estratégica, é necessário manter alguns quadros, sim, mas também existe uma necessidade importante de renovação política. Enfim, participamos da discussão [no partido] de como definir as faixas de doação entre candidaturas, quais seriam os pesos. Mas sem dúvida a campanha da Bancada Ativista será uma campanha com muita gente contribuindo, e sem o financiamento coletivo seria muito mais complicado.”

*Giulliana Bianconi é codiretora da Gênero e Número

Lola Ferreira

Formada pela PUC-Rio, foi fellow 2021 do programa Dart Center for Journalism & Trauma, da Escola de Jornalismo da Universidade de Columbia. Escreveu o manual de "Boas Práticas na Cobertura da Violência Contra a Mulher", publicado em Universa. Já passou por Gênero e Número, HuffPost Brasil, Record TV e Portal R7.

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