Feminista, Sylvia é pré-candidata a deputada estadual em Pernambuco. Foto: Divulgação

Novos nomes: Conheça Sylvia Siqueira Campos, pré-candidata em Pernambuco

A newsletter Política 2018 traz a cada edição quinzenal o perfil de uma mulher que disputará as eleições pela primeira vez este ano

Por Giulliana Bianconi*

  • A entrada na política partidária

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  • Projeto político

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  • Mulheres, jovens e educação

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  • Oposição ao feminismo liberal

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  • Território

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Aos 36 anos, 23 deles vivenciados na militância relacionada à busca dos direitos fundamentais de crianças e adolescentes, a feminista Sylvia Siqueira Campos, mestra em Gestão de Entidades não Lucrativas pela Universidad Complutense de Madrid e Especialista em Direitos Humanos, atua hoje como coordenadora da ONG Mirim, baseada em Pernambuco, de onde parte com frequência para encontros e eventos internacionais. Jornalista formada pela Universidade Federal de Pernambuco e atuante em redes de direitos humanos, está acostumada a acessar e fazer parte de espaços de debates privilegiados no campo sociopolítico, mas se vale da vivência na periferia da cidade, acumulada nas experiências pessoais e profissionais, para abrir diálogos e conectar diferentes classes em torno de pautas progressistas. Ao longo da entrevista que segue por mais de uma hora Gênero e Número, a pernambucana é incisiva em afirmar que não vê sentido em fazer e falar sobre política se não com um discurso de inclusão de minorias em todos os espaços e até de reparação de direitos negados a grande parte da população. Foi assim que atuou até então e como pretende ingressar na Assembleia Legislativa, onde vai concorrer a uma cadeira de deputada pelo PT. Conheça Sylvia nos cinco tópicos abaixo.

A entrada na política partidária

“Essa entrada tem a ver com dois marcos. O primeiro foi a minha chegada aos 30 anos. Eu avaliei minha caminhada, refleti sobre como eu poderia seguir atuando politicamente e entendi que eu precisava acelerar o passo. Até eu tomar essa decisão [da candidatura], minha atuação era como militante e eu não havia me filiado a nenhum partido, embora eu tenha uma formação política que começou dentro de casa, ainda na infância e adolescência, com familiares engajados em partidos e meu pai tendo sido candidato a vereador em duas ocasiões. O segundo momento foi o dia 14 de março deste ano. Quando eu vi uma companheira como Marielle [a vereadora Marielle Franco, assassinada no Rio de Janeiro], que havia entregue a vida à política e à mudança social, e com quem eu compartilhava um projeto de país, ser vítima de uma execução tão brutal e covarde, eu senti realmente que havia uma necessidade de eu entrar nessa política, e foi muito forte esse sentimento. Eu não tinha esse projeto de candidatura antes de 2018. Em 2015 quis entrar para o PT e reconstruir o partido, saindo da zona crítica. Em 2016, algumas pessoas próximas começaram a me incentivar. Me senti apoiada, com espaço entre as pessoas com quem eu faço política e trabalho. Este ano, me “informaram” diante da necessidade do contexto, mas desde 2015 havia convite para essa política partidária feito pela secretária estadual de mulheres do PT, Suely Oliveira, e por Teresa Leitão [deputada estadual]”.

Projeto político

“O que me importa, o que eu quero e no que acredito é movimentar as pessoas em torno de um projeto político que não é esse projeto de estagnação que Pernambuco vive hoje. O que predomina no Estado atualmente é uma visão de desenvolvimento que propiciou acúmulo de capital e não modificou o acesso a direitos, e falo de direitos muito básicos, como educação e saneamento. Direitos não são produtos de prateleira. Mas o que vemos é um sistema onde as pessoas pobres são excluídas do acesso a esses direitos se não podem pagar por eles. Meu projeto político tem como base mesmo a igualdade de direitos, mas no acesso, e não na oferta. Pela minha trajetória até aqui, a educação vai mesmo ser tema transversal, vou falar de educação sempre no dia a dia, mas não é sobre atrelar a educação à discussão sobre quantidade de escolas ou à educação formal. Eu quero atuar pela educação olhando para acesso público e de qualidade para todas as pessoas, e de forma que esteja estreitamente vinculado com o modelo de sociedade que nós precisamos para viver com justiça social. Isso é mais do que buscar melhorar as escolas que já existem e incluir no sistema de educação quem está fora. É fazer uma revolução pela educação. Quero promover diálogo sobre isso com quem tem acesso, mostrando como uma juventude economicamente ativa precisa ser considerada em toda a sua diversidade, incluindo ai quilombolas, jovens negros, indígenas. Porque embora a gente saiba que tem uma juventude negra, indígena e quilombola muito mais vulnerável do que a juventude que é classe média, sabemos também que há uma insatisfação geral, e é sobre um novo modelo de política que precisamos conseguir falar com todos. Eu gosto de pensar que estou aqui para falar com pessoas, e que antes de abrir um diálogo, eu não quero pensar em desistir dessas pessoas, desses jovens.”

Mulheres, jovens e educação

“Eu sou uma das mulheres que fazem A Partida em Pernambuco. Minha atuação tem sido feminista, eu luto pelos direitos das mulheres, e vejo que hoje já conseguimos um acúmulo simbólico na nossa sociedade sobre o debate sobre direitos. São adolescentes, jovens adultos, meninas de 12 anos que já têm uma outra percepção sobre o mundo, e isso não tem necessariamente a ver com educação formal. É com o que os movimentos de mulheres, que conseguiram avançar, com o acúmulo mesmo gerado gerações após gerações de feminismo. E eu tenho visto isso numa juventude de mulheres, mas de homens também, um desejo e uma compreensão de que é possível construir diversidade. Não é simples, não estou dizendo que é. Mas eu ando bastante pelo estado e percebo isso. Recentemente eu estive numa palestra no Ginásio Pernambucano [tradicional escola pública do Recife] e enquanto eu conversava com aqueles jovens percebi que era uma turma que não sabia sobre a história do Brasil recente, mas tinha uma vontade imensa de atuar politicamente. É um desejo geral: os jovens hoje querem um lugar melhor, uma escola melhor, e vimos isso nas ocupações das escolas no Brasil que ocorreram há pouco. Parece um conceito bobo, não é? Mas não é mesmo. Esses jovens percebem que eles não precisam sofrer tanto quanto seus pais e avós sofreram para alcançar uma vida digna, que podem ter uma vida digna, com educação, moradia.”

"Eu tenho visto isso na juventude: um desejo e uma compreensão de que é possível construir diversidade." Foto: Divulgação / Luca Scognamillo

Oposição ao feminismo liberal

Eu sei que esse espaço que eu busco, essa eleição na qual acredito, é um desafio para as mulheres. Eu acompanho essas mulheres também, fiz e faço política como feminista, e por isso mesmo penso que não se pode falar somente sobre mais mulheres na política. O que precisamos é de mulheres feministas do campo progressista. Por quê? Porque o feminismo liberal não dá conta da complexidade que é a o debate sobre direitos. Não é sobre o indivíduo, é sobre um projeto político de Brasil, e aí eu lembro muito da companheira Marielle Franco, do quanto ela foi uma referência de como essa representatividade de mulher negra, de mulher que pauta questões de direitos de forma muito explícita, mas dialogando com uma classe ampla, é fundamental. A política para mim é a relação entre as pessoas dentro da civilidade, é o que a gente vive, o que a gente consome, mas a forma e o discurso desse exercício de poder são importantes justamente para a construção dessa civilidade. Esse ponto eu discuto no Partido dos Trabalhadores, inclusive eu discuto isso com outras mulheres e também com homens dentro do próprio PT, onde estamos falando sobre criar um comitê estadual coletivo das candidaturas de mulheres.”

Território

“A nossa agenda para um futuro mandato estadual não incide numa região, em um único território. Prefiro falar sobre conquistas que poderão repercutir amplamente, e acredito que isso é possível exatamente quando a proposta é atuar de forma mais articulada e coletiva. Eu digo isso porque vemos questões, como a do saneamento básico, que são um problema grave ainda para diferentes áreas, diferentes municípios. Se a gente olha para Casa Forte [bairro de classe média alta] vemos 90% do território com saneamento, mas ali do lado, no Vasco da Gama, temos 3% de área saneada. Já no município de Ipojuca, políticas de saneamento ou até de transporte também ainda são muito precárias. A gente tem um PSB que governa o estado há um bom tempo, mas ainda não consegue desenhar arranjos que extrapolem largamente os arranjos familiares, os núcleos de poder, de privilégio que reforçam essa estrutura que não nos permite falar numa reparação de desigualdades sociais.”

*Giulliana Bianconi é jornalista e codiretora da Gênero e Número

Mais sobre Política 2018: https://www.generonumero.media/politica-2018/

Contato: https://www.generonumero.media/contato/

Lola Ferreira

Formada pela PUC-Rio, foi fellow 2021 do programa Dart Center for Journalism & Trauma, da Escola de Jornalismo da Universidade de Columbia. Escreveu o manual de "Boas Práticas na Cobertura da Violência Contra a Mulher", publicado em Universa. Já passou por Gênero e Número, HuffPost Brasil, Record TV e Portal R7.

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