A pernambucana, ativista, educadora e artista Erica Malunguinho disputa uma cadeira na Assembleia Legislativa de São Paulo nestas eleições. A pré-candidata pelo Psol é conhecida por estar à frente da Aparelha Luzia, um espaço de resistência negra no centro de São Paulo. “A minha identidade de gênero, minha negritude e o fato de eu ser nordestina fizeram com que eu precisasse negociar minha existência em São Paulo. Eu entendi o lugar que deveríamos estar e o lugar que nos colocaram, e isso é a força que me constrói para pensar o que essa candidatura significa”, diz. Em 2018, ela lança sua primeira candidatura a um cargo eletivo com o objetivo de levar sua luta pelos direitos humanos e maior representatividade política de pessoas negras e LGBTQ+ na Assembleia Legislativa. O conceito de quilombo como uma tecnologia social e sociedade organizada autogestionada vai ser um dos pilares da sua candidatura. Saiba mais sobre as propostas de Erica Malunguinho.
Novos nomes: Conheça Erica Malunguinho, pré-candidata a deputada estadual de São Paulo
A newsletter Política 2018 traz a cada edição quinzenal o perfil de uma mulher que disputará as eleições pela primeira vez em 2018
Por Vitória Régia da Silva*
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1. Renovação política
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2. Ampliação do debate
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3. Pré-candidatura "quilombo"
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4. Direitos fundamentais
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5. Desafios políticos
1. Renovação política
“Dentro dos meus trabalhos artísticos e dentro da educação, o fazer política era uma pauta constante. Existia até um apelo para que eu adentrasse esse lugar institucional, mas eu achava que não era o momento ainda porque eu gostava de estar nas bases, discutindo e fomentando esse diálogo”, conta Érica, que acredita ser esse o momento de se posicionar e construir uma outra narrativa política que vá de encontro a presença dos mesmos grupos na política e falta de uma alternância de poder. “A política institucional é um meio, e quando a gente percebe a urgência de determinados desejos e formas de construção, eu me sinto uma pessoa capaz a fazer essa mediação. Eu entendi que tenho um papel de responsabilidade em relação a todo esse acúmulo de circulação e de construção em termos de militância das artes, educação e no movimento LGBTQ+ e negro que faz com que meu projeto político-pedagógico seja o de pensar todas essas intersecções sistematizadas dentro do âmbito da política institucional.”
2. Ampliação do debate
Erica pauta que a política é uma construção constante e cotidiana, sendo importante nunca separar a política institucional e partidária da vida das pessoas. Por isso, ela defende a aproximação da sociedade civil com a política.
“ A gente tem um problema muito sério na hora de falar sobre política, porque toda vez que perguntam sobre trajetória política a gente esquece que a política se faz organicamente. Os corpos que participam da sociabilidade, que produzem e interagem com ideias é o fazer político. Principalmente, os corpos que foram colocados em dissidência e que foram marginalizados. A política foi se desumanizando a ponto das pessoas não acharem que quem está às representando e assinando papéis são pessoas, mas uma máquina e poder metafísico fora da humanidade. Precisamos pensar como a política está mais próxima da gente do que imaginamos”, explica.
3. Pré-candidatura "quilombo"
A pré-candidata é a fundadora e a figura que está a frente da Aparelha Luzia, um espaço de resistência negra no centro de São Paulo, que também é conhecido como “quilombo urbano”. O conceito de quilombo como uma tecnologia social e sociedade organizada autogestionada vai ser um dos pilares da sua candidatura.
“Não sou eu apenas que estou indo [como pré-candidata]. Eu sou uma representante de coletividades, uma [pré]candidatura quilombo. Em uma tomada de decisão coletiva eu me posicionei e me posicionaram como uma pessoa necessária para esse momento. [Minha pré-candidatura ] é uma construção coletiva de muita gente que vem passando essa ideia e esse desafio”, afirma Erica.
“Ela significa pensar a alternância e os quilombos como projetos políticos e de poder e entendermos que nós, que somos filhas e filhos dessa nação, produzimos e estamos produzindo intelectualidade e conhecimento que estão comprometidos com outras formas de vida e em reconfigurar e desconstruir esse modelo operante. Nós que estivemos em marginalização e apartamento da participação dessa institucionalidade conseguimos observar toda essa estrutura se construir e agora outros agentes precisam adentrar e disputar as diretrizes que movem a institucionalidade.”
4. Direitos fundamentais
Segundo Erica, faltam coragem e vontade de representantes políticos para entender as desigualdades e as práticas de exclusão baseadas no racismo, opressões de gênero e classe como formadoras da nossa sociedade e, por isso, é necessário combatê-las.
“A minha pré-candidatura entende e pensa todas essas formas de opressões sistêmicas como fundamentos das desigualdades e das disparidades. Não como recorte, mas um fundamento. Nós não somos a beira e a margem, nós fomos colocados neste lugar quando na verdade a gente funda todo esses espaços, só que em uma posição desfavorável e apagada de participação. E estamos sem receber os dividendos de tudo do que nos é de direito nesse projeto de nação.”
Ela defende como projeto político “acionar tudo o que for possível, dentro dos limites do Legislativo, para algo que seja possível e no campo de disputa interna, como mobilidade, economia, saúde, educação, cultura, mídia e liberdade religiosa sempre pensando nas pessoas que são inseridas e precarizadas nesses processos”.
5. Desafios políticos
Como mulher transgênero negra e nordestina, a pré-candidata reconhece que não é fácil se inserir e ocupar a política partidária, mas que é algo que precisa ser feito.
“Nós vamos enfrentar uma bancada que é representante desses poderes estruturais, mas por isso a necessidade de estar lá dentro para disputar essas narrativas e propor novos centros de inteligência e novas formas de fazer política”, afirma Erica.
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*Vitória Régia da Silva é jornalista e colaboradora da Gênero e Número.
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