A newsletter Política 2018 traz a cada edição quinzenal o perfil de uma mulher que disputará as eleições pela primeira vez em outubro
Por Vitória Régia da Silva*
A newsletter Política 2018 traz a cada edição quinzenal o perfil de uma mulher que disputará as eleições pela primeira vez em outubro
Por Vitória Régia da Silva*
1. Representatividade e protagonismo quilombola
2. Demarcação das terras quilombolas e indígenas
3. Defesa das religiões de matriz africana
4. Educação
5. Desafios políticos
A defesa dos direitos dos quilombolas e a valorização das religiões de matriz africana são algumas das principais pautas defendidas pela candidata a deputada estadual Xifroneze Quilombola (PSOL/SE). Mulher negra e quilombola, do Baixo São Francisco sergipano, Xifroneze é merendeira e mãe de nove filhos. Desde 2004, a candidata que nasceu e vive no Quilombo das Caraíbas, em Canhoba, a 124 km ao norte de Acaraju, luta pelos direitos sociais e territoriais do seu e dos demais quilombos brasileiros. Ela já atuou como presidente da Associação Paqueza Piloto, em seu quilombo; como coordenadora regional do Movimento Quilombola Estadual de Sergipe; como presidente da Federação Estadual de Comunidades Quilombolas de Sergipe; como representante em seu Estado da Coordenação Nacional de Articulação Quilombola e também como membro da diretoria do Sindicato dos Funcionários Municipais de Canhoba. Em 2019, a candidata quer continuar pautando os direitos das pessoas negras e quilombolas, agora na política institucional e partidária, dentro da Assembleia Legislativa sergipana.
Conheça mais sobre a trajetória e as propostas da candidata em cinco pontos.
Xifroneze conta que sua candidatura surgiu de uma decisão coletiva a partir de várias discussões na Coordenação do Movimento Quilombola, que reúne mais de 44 comunidades quilombolas do Sergipe, sobre a necessidade de ter uma voz que os represente na assembleia estadual. “As pessoas falam de inclusão, mas não estão interessadas em nos incluir de verdade. Nossas pautas são excluídas e com muita violência”, afirmou.
“O motivo da minha candidatura foi a necessidade dos povos quilombolas de se posicionar dentro dos espaços de poder e nas tomadas de decisão e para lutar pelos nossos direitos. A gente não precisa ter uma trajetória antiga dentro dos partidos para disputar esses espaços. Pautamos política todos os dias.”
A candidata defende como pauta prioritária o reconhecimento e a demarcação de terras quilombolas, indígenas e para os povos tradicionais. Ela também propõe a desapropriação de áreas públicas para a população que não tem terra e que vive em situação de rua e aplicação de políticas públicas de reparação. Xifroneze destaca o desafio desse ponto devido à forte presença de parlamentares aliados ao agronegócio na política brasileira. “Nós vamos contra uma bancada ruralista que pauta a derrota dos povos quilombolas e indígena”.
“A reforma agrária é muito difícil de se fazer nesse país. Não temos parlamentares que defendem diretamente essa pauta, por isso temos que garantir aos quilombolas, indígenas e povos tradicionais as suas terras”, afirma.
Xifroneze menciona a portaria instituída pelo Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) no fim do ano passado que reconheceu 185 famílias quilombolas do Sergipe como público potencial da reforma agrária e defende a extensão da decisão para outros Estados e comunidades quilombolas.
“Nossa vida é ameaçada todo o tempo, seja por território ou por nossa religião”, disse Xifroneze. Ela pretende trabalhar pela garantia de estrutura e proteção para os povos de religião de matriz africana. A candidata defende o fortalecimento das religiões por meio de projetos de lei e do resgate dessas religiões nos quilombos.
“Eu nasci e cresci no quilombo e vi as religiões de matriz africana sendo cultuadas e resistindo ao sincretismo e apagamento de outras religiões. O sincretismo e o cristianismo chegaram forte nas comunidades, que tiveram que esconder suas crenças por preconceito e medo da violência”, afirma.
Xifroneze trabalha como merendeira em uma escola pública e já trabalhou como professora, por isso a educação pública de qualidade é uma pauta de sua campanha. Ela defende a garantia da merenda escolar, maiores salários para professores, educação diferencial para o povo quilombola e formação continuada de professores, principalmente em relação ao ensino de história e cultura afro-brasileira.
“A lei 10.639 é bem feita, mas não é colocada em prática. Os Estados precisam criar leis estaduais e municipais, com base na legislação nacional, para garantir a execução da lei, porque os Estados e municípios deixam a desejar”, afirma.
Na reta final da eleição, a candidata ressalta que a luta dos povos quilombolas para adentrar espaços de poder não termina com sua campanha. Ela já está de olho nas próximas eleições, que acontecem em 2020, e pretende lutar para ter vereadores e prefeitos quilombolas para trabalhar com essas reivindicações nos municípios.
“Minha campanha também busca provocar outros e incentivar que mais pessoas negras e quilombolas ocupem cargos municipais e estaduais. Fomos ensinados que política partidária não é para nós, o que faz parte de um projeto para impedir mais direitos e representatividade política.”
*Vitória Régia da Silva é jornalista e colaboradora da Gênero e Número
Mais sobre Política 2018: https://www.generonumero.media/politica-2018/