Na reta final das eleições, debates entre vices evidenciam protagonismo de candidatas
Três debates na última semana trouxeram Manuela D’Ávila (PCdoB), Kátia Abreu (PDT), Ana Amélia (PP) e Sônia Guajajara (PSOL) em conversas que ressaltaram convergência das candidatas, apesar das divergências políticas, na promoção da igualdade entre os gêneros e no combate à violência contra mulheres
Nesta última semana antes das eleições, debates que reuniram apenas candidatas à vice-Presidência permitiram um vislumbre do que seria um cenário político brasileiro igualitário, com as mulheres ocupando os principais espaços de poder no país.
“Estamos aqui também para superar a ausência da diversidade na política, não só no Congresso, mas também no poder Executivo”, disse Sônia Guajajara (PSOL), durante o encontro Mulheres na Política, que na última sexta-feira (28/09) reuniu outras três candidatas a vice-presidentas: Manuela D’Ávila (PCdoB), Kátia Abreu (PDT) e Ana Amélia (PP). “A culpa talvez não seja nossa, mas da imprensa, que valoriza o homem que está na cabeça de chapa, mas não dão espaço pra gente”, criticou Guajajara, vice de Guilherme Boulos (PSOL).
No debate promovido pelo Instituto Locomotiva e pelo jornal El País em São Paulo, as candidatas, apesar de suas divergências políticas, expressaram sua convergência nas pautas relativas à equidade de salários e na participação política de homens e mulheres e ao combate à violência contra mulheres.
Elas também se uniram no repúdio ao candidato presidencial Jair Bolsonaro (PSL). “Esse candidato, além de antidemocrático, não tem compromisso nenhum com a construção de igualdade entre brasileiros e brasileiras, não só entre homens e mulheres”, disse Manuela, companheira de chapa de Fernando Haddad (PT).
Já Kátia Abreu, vice de Ciro Gomes (PDT), considerou o movimento #EleNão como “apenas a consequência e a reação justa das mulheres contra esse fascistoide, reacionário que quer nos puxar para trás”. “E nós não vamos permitir.”
Manuela e Guajajara defenderam a revogação da emenda constitucional do “Teto dos Gastos”, aprovada pelo governo de Michel Temer em 2016 e que limita o investimento público em educação, saúde e outras áreas. “Pergunta para uma mãe se tem Estado demais, se tem creche para o seu filho, se tem hora extra na escola, se tem quadra esportiva”, disse a candidata do PCdoB. “As mulheres sabem a falta que o Estado faz. Por isso, é importante revogar a PEC 95.”
Além de antidemocrático, [Bolsonaro] não tem compromisso nenhum com a construção de igualdade entre brasileiros e brasileiras, não só entre homens e mulheres.
— Manuela D'Ávila (PCdoB)
Abreu e Ana Amélia se encontraram três dias depois no debate entre vices promovido pelo programa Roda Viva, da TV Cultura, de que participou também Eduardo Jorge (PV), vice de Marina Silva (Rede). Também foram convidados, mas não participaram, Manuela e o general Hamilton Mourão (PRTB), vice de Bolsonaro. Mourão foi barrado de participar dos debates por sua campanha, devido a controvérsias por suas declarações em atos públicos na semana anterior.
A candidata a vice na chapa do PDT se voltou às eleitoras indecisas, que devem decidir o pleito deste domingo: “Quero dar razão a todas vocês. Todas nós estamos muito indignadas, exaustas, cansadas dos maus tratos que costumam chamar de machismo. (…) As mulheres pobres é que têm a fotografia das ausências e da pobreza maior desse país. Então dou razão e me orgulho de vocês por estarem indecisas até agora. Desconfiem mesmo dos políticos, desconfiem muito e olhem a vida de cada um deles.”
Ana Amélia disse que sua chapa, encabeçada por Geraldo Alckmin (PSDB), sabe “o que fazer para mitigar a violência contra as mulheres”, que segundo ela “é a pior doença que ataca a sociedade brasileira hoje”. Ela também defendeu seu papel como vice: “não serei uma vice decorativa. Serei uma vice com total lealdade ao presidente Geraldo Alckmin porque já conversamos muito sobre a responsabilidade no gerenciamento de crises e no diálogo com o Congresso. (…) O vice tem posição de aferimento e de trânsito com os poderes para auxiliar o presidente.”
As mulheres pobres é que têm a fotografia das ausências e da pobreza maior desse país. Então dou razão e me orgulho de vocês por estarem indecisas até agora. Desconfiem mesmo dos políticos, desconfiem muito e olhem a vida de cada um deles.
— Kátia Abreu (PDT)
O debate promovido por UOL, SBT e Folha de S. Paulo na terça-feira (02/10) voltou a ser só das mulheres, desta vez com Manuela D’Ávila, Kátia Abreu e Ana Amélia. Assim como no debate do Roda Viva, foram convidados os vices das cinco chapas com maior porcentagem de intenção de voto, segundo as pesquisas das últimas semanas. Eduardo Jorge e Hamilton Mourão não compareceram.
Abreu e Ana Amélia convergiram dessa vez nas críticas ao PT e a Fernando Haddad, cabeça da chapa de Manuela, que deve disputar o segundo turno com Bolsonaro e Mourão, segundo as pesquisas de intenção de voto. As duas argumentaram que um possível novo governo do Partido dos Trabalhadores a partir de 2019 seria insustentável, entre outras coisas, pelo forte antipetismo de parte da população, representado também pela liderança de Bolsonaro nas pesquisas.
A candidata do PCdoB defendeu Haddad e um possível futuro governo petista afirmando que “o ambiente de 2016 não se repetirá”. “Há necessidade de fazer o Brasil crescer. O ambiente de diálogo vai voltar a existir”, disse Manuela.
É jornalista formada pela ECO/UFRJ e pós graduanda em Escrita Criativa, Roteiro e Multiplataforma pela Novoeste. Além de jornalista, também atua na área de pesquisa e roteiro para podcast e documentário. É Presidente e Diretora de Conteúdo da Associação Gênero e Número, onde trabalha há mais de sete anos. Já escreveu reportagens e artigos em diversos veículos no Brasil e no exterior, como o HuffPost Brasil, I hate flash, SPEX (Alemanha) e Gucci Equilibrium. É uma das autoras do livro "Capitolina: o mundo é das garotas" [ed. Seguinte] e colaborou com o livro "Explosão Feminista" [Ed. Companhia das Letras] de Heloisa Buarque de Holanda.
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