Lançada em 19 de setembro, a plataforma eleitoral da ONG #MeRepresenta aproximou, em pouco mais de dez dias, 180 mil eleitores de 853 candidaturas (entre 34 partidos políticos). A iniciativa surgiu em 2016 da união de coletivos e entidades formados por mulheres, pessoas negras e LGBT+, com o objetivo de destacar candidaturas do Legislativo que tenham como pautas a igualdade de gênero, o respeito à diversidade sexual e de gênero e o combate ao racismo.
A plataforma convidou candidatas e candidatos a responder um questionário com perguntas sobre seu posicionamento sobre temas relacionados aos direitos humanos, e dá a chance a eleitoras e eleitores de encontrar candidaturas com as quais se identificam.
Até o fim de setembro, 853 candidaturas de todos os estados haviam respondido ao questionário. A Gênero e Número acessou os dados do mapeamento, que apontam que as mulheres são 38% e os homens são 62% entre os candidatos na plataforma. São 49,7% candidatos brancos, 48,9% negros e apenas 0,5% indígenas. As pessoas LGBT+ representam 15% dos candidatos cadastrados, com o restante se identificando como cisgênero e heterossexuais (85%).
Entre as pautas relacionadas a gênero, raça e sexualidade, as mais defendidas pelas candidaturas inscritas são o monitoramento da Lei do Feminícidio (97,4%), a criminalização da LGBTfobia (90,4%) e o financiamento público de campanhas de mulheres negras (85,1%). A legalização do aborto teve apoio de pouco mais da metade das candidaturas (51,2%) e a oposição ao projeto “Escola Sem Partido” é de 63,4%.
A ideia da plataforma “partiu de um diagnóstico de que os retrocessos no Legislativo eram algo em comum com várias frentes de mobilização”, explicou Evorah Cardoso, uma das gestoras do #MeRepresenta, à Gênero e Número. “Como estratégia, resolvemos atuar juntos e visibilizar candidaturas mais progressistas e que defendessem os direitos humanos”, completou.
Neste ano, a iniciativa foi institucionalizada como ONG e é gestada por quatro entidades: #VoteLGBT, Blogueiras Negras, Rede Feministas de Juristas e Fundação Cidadania Inteligente. “A ideia é atuar no momento das eleições, dando visibilidade a candidaturas a favor dos direitos humanos, e fora dos períodos eleitorais trabalhar de forma consistente em reforma política. Não somos ingênuos a ponto de achar que dá para transformar tudo pelo voto, já que as regras do jogo eleitoral são propositalmente excludentes. Por isso precisamos disputar essas regras”, disse Cardoso.
Para decidir quais pautas de direitos humanos entrariam no questionário dos candidatos, o #MeRepresenta contou com a colaboração de 19 entidades de direitos humanos. Foram 140 sugestões, que posteriormente foram transformadas em 22.
“O objetivo era construir uma pauta didática o suficiente para os eleitores terem as ferramentas para fazer suas escolhas”, explicou Cardoso. “Nosso único critério era dar visibilidade a candidaturas que se comprometem com alguma pauta de direitos humanos, por isso diferem os números de pautas que cada candidatura defende.” Depois das eleições, os dados são disponibilizados para que as pessoas possam encontrar aliados políticos e fazer o controle social dos compromissos assumidos pelas candidaturas durante a campanha.
A gestora do #MeRepresenta lembra que nas eleições de 2016, das 10 candidaturas mais visualizadas da plataforma, nove eram de mulheres, três delas mulheres negras – as então candidatas a vereadoras Marielle Franco (PSOL/RJ), Áurea Carolina (PSOL/MG) e Taliria Petrone (PSOL/RJ), que foram eleitas naquele pleito. Quatro das candidatas mais visualizadas eram lésbicas ou bissexuais e uma era trans, e o único homem entre as dez candidaturas mais populares na plataforma era gay.
“Marielle Franco era uma das candidatas mais visualizadas da plataforma em 2016 e mexeu muito com a gente sua execução, porque percebemos que a política é um espaço de exclusão ou de eliminação de corpos”, avalia Cardoso. “A política é tóxica e violenta o suficiente para afastar ou mesmo eliminar determinados grupos desse espaço. Participar da esfera política não é algo igual para todo mundo, mas extremamente violento para alguns grupos, por isso queremos incentivar candidaturas e construir uma um política menos discriminatória e violenta.”
*Vitória Régia da Silva é jornalista e colaboradora da Gênero e Número.