O combate à pandemia de coronavírus, como não poderia deixar de ser, tem direcionado as ações e o noticiário no Brasil e no mundo, o que não significa que nada mais esteja sendo discutido e/ou resolvido. O aborto é um destes temas, e foi para entender como a mídia vem tratando do assunto que a Gênero e Número se debruçou sobre os dados levantados pelo Centro Feminista de Estudos e Assessoria (Cfemea) e o Observatório de Sexualidade e Política (SPW) nos últimos três meses, já que a pandemia começou a ser notícia no país ainda em fevereiro.
“Esta iniciativa faz parte de um projeto em parceria (Cfemea / SPW), que tem o objetivo de desenvolver estratégias de lobby e comunicação na luta pelo direito de decidir por um aborto no Brasil. Monitorar a mídia foi, desde o início do projeto, apontado como instrumento essencial para seu desenvolvimento, de modo a acompanhar as repercussões das movimentações no legislativo, executivo e judiciário, assim como sentir a temperatura da opinião pública”, explica Angela Freitas, assessora do projeto, que existe há mais de dois anos.
Neste levantamento, que inclui periódicos, blogs e sites, foram destacadas 1.189 matérias nas quais aparecem a palavra “aborto”, classificadas em “favoráveis”, “contrárias”, “neutras”, “ambivalentes” e “relacionadas” ao tema. Para melhor compreensão, dividimos os veículos de notícias em tradicionais, independentes (nas quais se incluem veículos destinados a um público específico, como evangélicos e católicos) e institucionais (publicações de universidades e de órgãos públicos, por exemplo). A maior parte das notícias (705) foi classificada como “neutra”, o que se explica pelo fato de ter sido publicada em veículos tradicionais de mídia, que pregam a imparcialidade como princípio editorial. As “favoráveis” (203) aparecem em segundo, também com publicação majoritária em veículos tradicionais (144); já as contrárias (181) foram produzidas principalmente pela mídia independente (89).