Uma cachorra, um corinthiano, um cacique, um metalúrgico, uma pessoa com deficiência, um professor, uma cozinheira, um artesão: o povo brasileiro toma posse | Foto: arte sobre foto de Ana Pessoa / Mídia Ninja

O Brasil sobe a rampa do Planalto

Maria Martha Bruno

  • "A diversidade é uma forma de alargar a democracia"

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“Estamos refundando o Ministério das Mulheres para demolir este castelo secular de desigualdade e preconceito”.

“Vamos revogar todas as injustiças cometidas contra os povos indígenas”.

“Não é admissível que negros e pardos continuem sendo a maioria pobre e oprimida de um país construído com o suor e o sangue de seus ascendentes africanos”.

Os discursos de posse de Lula atacaram todos os pontos cruciais das diferenças de gênero e raça que são o flagelo do Brasil. E até o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD/MG), um quase-puro-sangue do Centrão, fez uma deferência inevitável a um preto. Abriu a sessão solene de posse no Congresso com uma homenagem a Pelé, que hoje começa a ser velado em Santos (SP). E coube à catadora preta Aline Sousa passar a faixa presidencial para o recém-empossado, no momento mais emotivo da jornada democrática que abriu 2023 no Brasil. 

Diversidade nos ministérios [2003-2023]

Terceiro governo de Lula traz pela primeira vez

indígenas ao primeiro escalão

mulheres

homens

indígenas

indígenas

negras

brancos

brancas

negros

Anielle

Franco

lula 3

1

1

22

2023 - 2027

3

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Sonia

Guajajara

6

bolsonaro

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2019 - 2022

temer

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2016 - 2018

dilma 2

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2015 - 2016

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dilma 1

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2011 - 2014

7

lula 2

2

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2007 - 2010

Dilma

Rousseff

lula 1

1

2

0

2

0

26

2003 - 2006

Fonte levantamento Gênero e Número

Diversidade nos ministérios

[2003-2023]

Terceiro governo de Lula traz pela primeira vez indígenas ao primeiro escalão

lula 3

2023 - 2027

mulheres

homens

indígenas

indígenas

negras

brancas

negros

brancos

Anielle

Franco

1

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Sonia

Guajajara

6

bolsonaro

2019 - 2022

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mulheres

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2015 - 2016

mulheres

homens

indígenas

indígenas

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2011 - 2014

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2007 - 2010

mulheres

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Dilma

Rousseff

lula 1

2003 - 2006

mulheres

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indígenas

negras

brancas

negros

brancos

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26

Dilma

Rousseff

Fonte levantamento Gênero e Número

No meio de uma maioria de homens brancos, que domina a política institucional do Brasil desde sempre, além do espírito de Pelé, circulavam o menino corinthiano Francisco Carlos do Nascimento, Benedita da Silva, Sonia Guajajara, Raoni e Anielle Franco. A ministra da Igualdade Racial entrou no Congresso “esperando novos ares e com a certeza de que a democracia voltou a sorrir”.

O abraço de Anielle Franco e Dandara Tonantzin na posse | Foto: Marck Castro/Câmara dos Deputados

"A diversidade é uma forma de alargar a democracia"

A posse do ex-presidente coloriu a Esplanada dos Ministérios de vermelho, marrom, preto, arco-íris e verde e amarelo. Duda Salabert (PDT/MG)), eleita junto com Erika Hilton (PSOL/SP) a primeira deputada federal trans do Brasil, adentrou o Congresso na mesma condição de políticos antiquados que ocupam parte da Casa. 

“O dia de hoje é para celebrar a derrota de Jair Bolsonaro e a vitória de um projeto voltado para a vida. Sepultamos a necropolítica e fomentamos a biopolítica. Estamos celebrando a vitória de um projeto popular construído coletivamente. Não é à toa que temos duas travestis eleitas no Congresso Nacional e uma travesti na Secretaria LGBT. Tudo isso é uma vitória da democracia. A diversidade é uma forma de alargar a democracia”.

Primeira deputada eleita trans eleita para a Câmara, junto com Erika Hilton, Duda Salabert (PDT-MG) chega para a posse | Foto: Marck Castro/Câmara dos Deputados

Violentamente agredida por Jair Bolsonaro duas vezes dentro do Congresso (“não estupro porque você não merece”), Maria do Rosário (PT/RS), ex-ministra das Mulheres no governo Dilma, falou sobre o tipo de política que retorna ao governo: 

“Há muitos assuntos relacionados a políticas de cuidados que as mulheres querem dividir com a sociedade e sobre os quais os Estado precisa atentar. No discurso, o presidente Lula falou muito sobre creches, saúde pública, de políticas públicas que fazem diferença para todos, mas sobretudo para as mulheres. Então acho que as mulheres também venceram com o presidente Lula.

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Maria Martha Bruno

Jornalista multimídia, com experiência na cobertura de política e cultura, integra a equipe da Gênero e Número desde 2018. Durante três anos, foi produtora da NBC News, onde trabalhou majoritariamente para o principal noticiário da emissora, o “NBC Nightly News”. Entre 2016 e 2020, colaborou com a Al Jazeera English, como produtora de TV. Foi repórter e editora da Rádio CBN e correspondente do UOL em Buenos Aires. Jornalista pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, é mestre em Comunicação e Cultura pela mesma instituição, e atualmente cursa o programa de Doutorado em Comunicação na Texas A&M University, nos EUA.

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