Mulheres negras são quase metade dos 2,4 milhões de jovens de 15 a 29 anos que não estudam nem trabalham no Brasil, mas gostariam de trabalhar. O grupo demográfico mais afetado pela falta de oportunidade de trabalho e desenvolvimento educacional também representa três de cada quatro brasileiros na faixa etária que afirma que os afazeres domésticos e o cuidado de pessoas os impedem de procurar emprego ou frequentar instituições de ensino.
A pesquisa revela ainda que uma a cada sete mulheres negras entre 15 e 29 anos que não estudam nem trabalham estão abaixo da linha da extrema pobreza, pois vivem com menos de R$200,00 per capita por mês.
Mulheres brancas também apontam o trabalho não remunerado como limitador de estudo ou de participação no mercado. Elas representam um de cada cinco jovens de 15 a 29 anos que afirmam que esse é o principal motivo para não procurar emprego ou educação formal.
Esse tipo de atividade, porém, não é, nem de longe, o motivo que impede os homens jovens de trabalhar ou estudar, uma vez que afazeres domésticos e cuidado de pessoas afastam dois de cada 100 homens negros do trabalho remunerado e do estudo e um de cada 100 homens brancos.
Jovens que gostariam de estudar ou trabalhar, mas não conseguem
Principal motivo para não buscar emprego ou educação formal
homens
brancos
mulheres
negras
homens
negros
mulheres
brancas
2%
1%
Tinha que cuidar dos
afazeres domésticos
77%
19%
Entre jovens que deixaram de buscar emprego ou educação formal porque tinham que cuidar de pessoas ou de afazeres domésticos, 77% são mulheres negras
Não havia trabalho
na localidade
45%
13%
33%
9%
Por problema de
saúde ou gravidez
42%
26%
21%
11%
Não conseguia
trabalho adequado
40%
31%
15%
15%
Considerado muito
jovem ou muito idoso
35%
14%
10%
41%
Estava estudando
por conta própria
28%
22%
28%
21%
Não tinha experiência
ou qualificação
36%
18%
16%
28%
Estava aguardando
resposta de medida tomada
para conseguir trabalho
23%
40%
18%
18%
*Os valores que faltam são referentes a amarelos e indígenas
**dados referentes a jovens de 15 a 29 anos
Fonte ibge/sis
Jovens que gostariam de estudar ou trabalhar, mas não conseguem
Principal motivo para não buscar emprego ou educação formal
mulheres
negras
homens
negros
mulheres
brancas
homens
brancos
Tinha que cuidar dos afazeres domésticos
77%
19%
2%
1%
Não havia trabalho na localidade
45%
33%
13%
9%
Por problema de saúde ou gravidez
42%
26%
11%
21%
Não conseguia trabalho adequado
31%
15%
15%
40%
Considerado muito jovem ou muito idoso
35%
14%
10%
41%
Estava estudando por conta própria
28%
22%
28%
21%
Não tinha experiência ou qualificação
28%
36%
18%
16%
Estava aguardando resposta de medida
tomada para conseguir trabalho
40%
18%
18%
23%
Entre jovens que deixaram de buscar emprego ou educação formal porque tinham que cuidar de pessoas ou de afazeres domésticos, 77% são mulheres negras
*Os valores que faltam são referentes a amarelos e indígenas
**dados referentes a jovens de 15 a 29 anos
Fonte ibge/sis
Os dados, que correspondem a 2022, fazem parte da Síntese de Indicadores Sociais: uma análise das condições de vida da população brasileira em 2023, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na última quarta-feira (6). O estudo apresenta indicadores sobre estrutura econômica e mercado de trabalho; padrão de vida e distribuição de rendimentos; condições de moradia e educação.
Denise Freire, uma das analistas da pesquisa, aponta que as mulheres, principalmente pretas e pardas, são as mais impactadas pela falta de políticas do cuidado.
Elas precisam ficar em volta do trabalho reprodutivo, cuidando de parentes e dos afazeres domésticos, sem contar com uma rede de apoio e acesso à creche e casa de repouso”
Segundo Freire, a faixa etária mais crítica, dentro da população considerada jovem, é a de 18 a 24 anos, por ser a fase de transição da escola para o trabalho.
“Elas acabam ficando fora do mercado de trabalho, não têm experiência em um primeiro emprego, não têm acesso às oportunidades e acabam tendo mais dificuldade”, completa.
Segundo o IBGE, os jovens que não trabalham nem buscam trabalho, mas gostariam de trabalhar estão na Força de Trabalho Potencial, ou seja, não estão trabalhando por falta de disponibilidade.
Além dos afazeres domésticos, os jovens entrevistados elencam outros motivos para justificar a indisponibilidade para o trabalho: estavam aguardando resposta depois de buscar trabalho; não conseguiram trabalho adequado; não tinham experiência profissional ou qualificação; não conseguiram trabalho por serem considerados muito jovens; não havia trabalho na localidade; estavam estudando por conta própria; por problema de saúde ou gravidez.
O aquecimento do mercado de trabalho após a pandemia beneficiou mais as pessoas brancas do que as pessoas pretas ou pardas. De acordo com o IBGE, entre 2021 e 2022, houve redução de 28% de jovens brancos que não estudam e não trabalham. Entre as mulheres brancas a queda foi de 19%, entre os homens negros, 16%, e entre as mulheres negras, 13%.
Para um dos analistas da pesquisa, André Simões, a questão racial é central para entender as desigualdades sociais no país.
Na educação, vamos ver que o acesso se dá em diferentes níveis, por cor ou raça, e que a população preta e parda têm um acesso menor. Nas questões de habitação e renda, a mesma coisa. As mulheres pretas e pardas têm uma vulnerabilidade ainda maior”
Segundo os pesquisadores, a vulnerabilidade das mulheres negras se mantém em patamares elevados em toda a série histórica da pesquisa.
Metodologia
Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) foram retirados das tabelas 1.47 e 1.48, disponibilizadas pelo órgão durante a apresentação da Síntese de Indicadores Sociais de 2023, em 04/12/2023. A conta sobre a queda do número de jovens que não estudam e não trabalham de 2021 para 2022 foi feita com base nos números expostos pelo IBGE na página 21 da referida apresentação.
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Atua com jornalismo investigativo orientado por dados e sob a perspectiva dos direitos humanos. Formada desde 2008 pela Univali, colaborou para o Epoch Times, no Canadá, e atuou como repórter nos principais jornais do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Seus trabalhos mais recentes foram para a Folha de S.Paulo, Abraji, Agência Lupa, O Joio e O Trigo, The Intercept Brasil e Portal Catarinas. Recebeu como reconhecimento os prêmios ABCR de Jornalismo, Unimed e RBS. Em 2022, concluiu especialização em Jornalismo de Dados, Automação e Data Storytelling pelo Insper.
Diego Nunes da Rocha é graduado e mestre em Ciências Sociais pelo PPGSA/UFRJ e doutorando em Sociologia no IESP-UERJ. Pesquisador associado do Ceres (Centro para o Estudo da Riqueza e Estratificação Social), Diego tem interesse em estratificação social, em especial no campo educacional. É analista de dados da Gênero e Número.
Designer formada em Comunicação Visual Design pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, integra a equipe da Gênero e Número desde 2020. Tem experiência na área do design de informação, editorial, ilustração, além de projetos sobre visualização de dados. Trabalhou no Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular no qual desenvolveu também trabalhos de identidade visual, design gráfico em exposições e sinalização.
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