Homens brancos no topo

Desigualdade de renda no Brasil tem gênero e raça

 

Marcella Semente

Victoria Sacagami

Aline Gatto Boueri

No início de maio, a Câmara de Deputados aprovou o Projeto de Lei nº 1.085/2023, que prevê igualdade salarial entre homens e mulheres que exercem a mesma função. O texto, enviado ao Congresso pelo Poder Executivo, estabelece também multa a empregadores, caso seja comprovada discriminação por motivos de gênero, raça ou etnia na definição da remuneração de seus funcionários.

Caso aprovado pelo Senado e sancionado pelo presidente Lula, o PL pode começar a corrigir distorções salariais no mercado formal, onde trabalham 52% dos empregados brasileiros. 

É um primeiro passo para mudar um cenário de profunda desigualdade, no qual a média de rendimento de mulheres negras, em todos os níveis de escolaridade, não chega a 60% da renda de homens brancos. Eles também estão em maior proporção na categoria de trabalho com melhor remuneração e no topo do ranking salarial de todas as ocupações.

A desigualdade de renda no Brasil tem gênero e raça.

 

Atualização: O PL que prevê igualdade salarial entre homens e mulheres que exercem a mesma função foi aprovado pelo Senado em 1° de junho de 2023.

 

 

Gênero e raça da desigualdade salarial no Brasil

Em todos os níveis de escolaridade, a renda média de mulheres negras não chega a 60% da renda de homens brancos

situação ensino

completo

incompleto

Sem

instrução*

Fundamental

Médio

Superior

R$8mil

homens brancos

R$7mil

R$6mil

5mil

homens negros

mulheres brancas

4mil

mulheres negras

3mil

2mil

21%

dos trabalhadores com

ensino superior são

mulheres negras. Elas

recebem, em média,

47% do rendimento dos

homens brancos com

a mesma escolaridade.

1mil

*sem instrução ou menos de 1 ano de estudo

0

Mulheres brancas só têm renda

média superior à de homens negros

entre trabalhadores sem instrução.

Renda média x ocupação

A renda média de homens brancos que trabalham por conta própria é mais que o dobro da renda de mulheres negras na mesma categoria

de pessoas na ocupação

como ler

ocupação

perfil da

ocupação

Renda

média

Renda

com carteira

assinada

homens brancos

sem carteira

mulheres brancas

homens negros

mulheres negras

7,8mi

4,1milhões

militar e servidor público

Empreendedor [com ao menos um empregado]

R$6,7mil

R$7,7mil

22%

R$4,5

R$6,0

42%

29%

R$4,7

R$5,1

20%

23%

R$3,4

R$4,4

27%

26%

10%

R$4,8

R$6,3

0

R$8mil

amarelos

e indígenas

0

R$8mil

1,4mi

35,6mi

com carteira

assinada

empregado público

empregado privado

R$5,9mil

R$3,3mil

27%

25%

R$2,7

R$3,6

20%

28%

R$2,2

R$3,4

22%

33%

R$1,9

R$2,5

23%

19%

R$3,9

R$2,5

0

R$8mil

0

R$8mil

2,7mi

25,3mi

sem carteira

assinada

empregado público

conta-própria

R$3,0mil

R$3,2mil

13%

28%

R$2,2

R$2,4

23%

17%

R$1,7

R$2,2

25%

R$1,3

R$1,9

37%

38%

18%

R$2,2

R$2,1

0

R$8mil

0

R$8mil

1,5mi

12,6mi

trabalhador doméstico

empregado privado

R$2,4mil

4%

R$1,7mil

22%

R$2,2

R$1,5

14%

32%

8%

R$1,4

R$1,5

44%

R$1,2

R$1,4

18%

55%

R$1,7

R$1,5

0

R$8mil

0

R$8mil

4,2mi

trabalhador doméstico

2%

R$1,2mil

do rendimento de homens

brancos. É o que recebem, em

média, mulheres negras que

trabalham no setor público

com carteira assinada.

42%

29%

R$1,0

5%

R$1,0

R$813

63%

R$893

0

R$8mil

Fonte PNAD Contínua 2022

Gênero e raça da desigualdade salarial no Brasil

Em todos os níveis de escolaridade, a renda média de mulheres negras não chega a 60% da renda de homens brancos

situação ensino

completo

incompleto

Fundamental

Superior

Sem

instrução*

Médio

R$8mil

homens brancos

R$7mil

R$6mil

homens negros

5mil

mulheres brancas

4mil

mulheres negras

3mil

2mil

1mil

*sem instrução ou menos de 1 ano de estudo

0

Mulheres brancas só têm renda

média superior à de homens negros

entre trabalhadores sem instrução.

21%

dos trabalhadores com ensino superior são mulheres negras. Elas recebem, em média, 47% do rendimento dos homens brancos com a mesma escolaridade.

Renda média x ocupação

A renda média de homens brancos que trabalham por conta própria é mais que o dobro da renda de mulheres negras na mesma categoria

como ler

com carteira

assinada

sem carteira

homens brancos

mulheres brancas

homens negros

mulheres negras

de pessoas na ocupação

ocupação

perfil da

ocupação

Renda

média

Renda

4,1milhões

Empreendedor [com ao menos um empregado]

R$7,7mil

R$6,0

42%

R$5,1

20%

R$4,4

27%

10%

R$6,3

amarelos

e indígenas

0

R$8mil

7,8mi

militar e servidor público

R$6,7mil

22%

R$4,5

29%

R$4,7

23%

R$3,4

26%

R$4,8

0

R$8mil

1,4mi

com carteira

assinada

empregado público

R$5,9mil

25%

R$3,6

28%

R$3,4

22%

R$2,5

23%

R$3,9

0

R$8mil

35,6mi

empregado privado

R$3,3mil

27%

R$2,7

20%

R$2,2

33%

R$1,9

19%

R$2,5

0

R$8mil

2,7mi

sem carteira

assinada

empregado público

R$3,2mil

13%

R$2,4

23%

R$2,2

25%

R$1,9

38%

R$2,2

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R$8mil

25,3mi

conta-própria

R$3,0mil

28%

R$2,2

17%

R$1,7

R$1,3

37%

18%

R$2,1

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R$8mil

12,6mi

empregado privado

R$2,4mil

22%

R$2,2

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R$1,4

44%

R$1,2

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R$1,7

0

R$8mil

1,5mi

trabalhador doméstico

4%

R$1,7mil

R$1,5

32%

8%

R$1,5

R$1,4

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R$1,5

0

R$8mil

4,2mi

trabalhador doméstico

2%

R$1,2mil

29%

R$1,0

5%

R$1,0

R$813

63%

R$893

0

R$8mil

do rendimento de homens

brancos. É o que recebem, em

média, mulheres negras que

trabalham no setor público

com carteira assinada.

42%

Fonte PNAD Contínua 2022

Metodologia

Os resultados foram estimados a partir dos microdados da entrevista 5 da PNAD Contínua 2022, incorporando o plano amostral, e considerando apenas aquelas pessoas que declararam rendimento proveniente do trabalho (pessoas de 14 anos ou mais de idade).

A distribuição da população em cada nível de escolaridade por sexo e raça/cor considerou o nível de instrução mais elevado alcançado (padronizado para o Ensino Fundamental com duração de 9 anos).

O rendimento médio mensal foi calculado a partir da variável de rendimento mensal habitual do trabalho principal, considerando apenas as pessoas que estavam ocupadas e declararam rendimento proveniente do trabalho. A fim de analisar apenas as desigualdades referentes ao rendimento das ocupações, apenas a posição na ocupação e categoria do emprego no trabalho principal foram utilizados – não foram considerados rendimentos provenientes de trabalhos secundários ou outras fontes.

As categorias de raça/cor “Preta” e “Parda” foram agrupadas em “Negra” para permitir estimação do rendimento médio mensal para todas as categorias de Posição na ocupação e categoria do emprego.

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Marcella Semente

Olindense que adotou o Rio para viver. Integra a Gênero e Número a partir de 2023. Atua como pesquisadora e analista de dados com foco em gênero, saúde e direitos reprodutivos, fecundidade, educação e violência. Já colaborou com o Ipea como assistente de pesquisa e analista de dados, e foi assessora de comunicação na SMS/Camaragibe. Doutoranda em Demografia no Cedeplar (UFMG), mestre em População, Território e Estatísticas Públicas pela Escola Nacional de Ciências Estatísticas (ENCE/IBGE), especialista em Programas e Projetos Sociais (UNICAP) e Jornalista pela UFPE, atualmente, é graduanda em Estatística também na ENCE.

Victoria Sacagami

Designer formada em Comunicação Visual Design pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, integra a equipe da Gênero e Número desde 2020. Tem experiência na área do design de informação, editorial, ilustração, além de projetos sobre visualização de dados. Trabalhou no Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular no qual desenvolveu também trabalhos de identidade visual, design gráfico em exposições e sinalização.

Aline Gatto Boueri

Jornalista formada pela Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (ECo-UFRJ), colabora com a Gênero e Número desde 2017. Metade tijucana e metade porteña, cobre política latino-americana desde 2013, com foco em direitos humanos, feminismos, gênero e raça. Foi correspondente de Opera Mundi em Buenos Aires, co-editora da Revista Geni, publicação independente sobre gênero e sexualidades e colunista da FM La Tribu, rádio independente com sede em Buenos Aires. Já publicou em UOL, Marie Claire, The Brazilian Report e Brasil de Fato. Também cuida de criança todos os dias.

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