Uma “distribuidora de liberdade”. Assim Elza Soares será apresentada na Avenida Marquês de Sapucaí na próxima segunda-feira, durante o desfile da Mocidade Independente de Padre Miguel, no Rio de Janeiro. O resumo é de Fabio Fabato, que desenvolveu o enredo e que antecipou o conteúdo “fundamentalmente político” do desfile, com protagonismo dos negros e das mulheres.
“Ela é síntese de toda a história de luta do povo brasileiro. Uma mulher negra, nascida na favela, que lutou contra o machismo, o racismo e o preconceito social, para brilhar. Elza Soares é a própria metáfora da resistência e insistência do povo brasileiro. Ela existe porque insistiu em mostrar sua arte”, disse ele, em entrevista à Gênero e Número.
Fabato admite que a homenagem da escola demorou — “Há muito tempo a Elza poderia ser enredo da Mocidade” — mas ressalta a pertinência da realização do desfile no Brasil de 2020: “O enredo está sendo feito no momento certo, quando o Brasil precisa discutir valores e a importância de sua gente. Elza Soares é uma mulher, é negra e veio da favela. Ela vai ter o protagonismo no maior espetáculo da Terra. Isso é muito grande”.
A cantora vai assistir ao desfile inteiro e também desfilará, como destaque no último carro alegórico da escola. Quando a Mocidade entrar na Avenida, Elza virá em um pequeno carro, à frente da escola, e a mesma alegoria ficará estacionada em um setor da Marquês de Sapucaí para que a cantora também tenha a oportunidade de contemplar sua trajetória, que completa nove décadas em junho deste ano. A escola não revela quem fará o papel de Elza na Avenida. Nascida no bairro de Padre Miguel, Zona Oeste do Rio, a cantora foi também puxadora da escola na década de 1970. Naquela época, ela eternizou o samba-exaltação “Salve a Mocidade”.
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O carnavalesco Jack Vasconcelos é o responsável pelo desfile. Uma das compositoras do samba é Sandra de Sá. Fabato conta que tem uma relação de longa data com a escola (“Conheço a Mocidade nas entranhas”), onde ele e seus pais desfilavam. Ele também escreveu sobre a escola no livro “As três irmãs: Como um trio de penetras ‘arrombou a festa’”, obra que trata da ascensão de Mocidade, Beija-Flor e Imperatriz Leopoldinense no Carnaval carioca.