A
história de aldeias indígenas chefiadas por mulheres, em Pernambuco, começa em 2003. Naquele ano ano, Maria das Dores Limeira, 59 anos, conhecida como Dorinha Pankará, se tornou a primeira cacique indígena do território Pankará, formado por 52 aldeias, localizadas na Serra do Arapuá, em Carnaubeira da Penha.
“O meu nome foi oficializado pelos encantados na gentil [oca sagrada] do terreiro da Cacaria [uma das aldeias do território], onde o meu nome foi abençoado. Eles disseram ‘você vai receber uma missão’. No dia seguinte, eu soube que seria cacique”.
Dorinha diz que não houve muito tempo de comemoração. Logo de início, ela assumiu a batalha para transformar a escola local em uma escola indígena, que deixaria de pertencer à rede pública municipal e passaria à esfera estadual. Após alguns diálogos com o gestor local, sem sucesso, Dorinha seguiu para Brasília, em busca de apoio.
De volta à cidade, travou um novo diálogo com o prefeito da época. “Ele disse: ‘eu não tenho que dar satisfação a você, porque você não é nada e eu sou o prefeito’. Eu disse ‘eu compreendo, mas assim como o senhor é prefeito, eu sou a autoridade maior do Povo Pankará’”.
Segundo a cacique, o prefeito se manteve irredutível, porque não queria “abrir mão da verba e do poder político que a escola lhe dava”. Ela, então, percorreu as 52 aldeias em uma moto e organizou uma grande mobilização com as demais lideranças da aldeia. “Nós fechamos as três entradas da aldeia. No dia seguinte, só entrava no território com a autorização da gente”.
O povo Pankará venceu a disputa e o ensino no território se tornou indígena, passando a integrar a rede estadual. “Hoje, nós temos 23 escolas e mais três anexos. Nossa educação, hoje, prepara guerreiros para continuar a luta no território”.
As 52 aldeias que formam o território Pankará, em Carnaubeira da Penha, reúnem cerca de 5 mil pessoas. Dorinha afirma que para dar conta de acompanhar todo povo, além da orientação dos encantados, conta com uma organização de representações na aldeia.
“Temos as lideranças em cada aldeia e o Conselho Triba, que se reúne com os encantados, tem acesso às orientações e me auxilia a tomar decisões importantes”.