Entre 2006 e 2017, foram 137.312 denúncias de homofobia na plataforma. | Foto: Mídia Ninja

Eleições de 2018 têm pico de denúncias de discurso de ódio, apontam dados da SaferNet

Por Vitória Régia da Silva*

Segundo os dados da organização, em 7 de outubro, dia da eleição, foram recebidas 109 denúncias. No dia 8, foram 5.163 denúncias, e a maior parte referente a xenofobia

  • Aumento de denúncias em período eleitoral

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No dia seguinte ao primeiro turno das eleições de 2018 houve 46 vezes mais denúncias de discurso de ódio nas redes sociais na plataforma da ONG SaferNet, que atua na promoção e defesa dos direitos humanos na internet, em relação ao dia da votação. A organização opera a Central Nacional de Denúncias de Crimes Cibernéticos, que conta com o suporte da Polícia Federal e do Ministério Público Federal.

Segundo os dados da organização acessados pela Gênero e Número, em 7 de outubro, dia da eleição, houve 109 denúncias. No dia 8, foram 5.163 denúncias, a maior parte referentes a xenofobia, conforme indicou Juliana Cunha, diretora da SaferNet.

Entre 2006 e 2017, a organização recebeu 2.061.141 denúncias de discurso de ódio nas redes, conforme apontou em levantamento. Apologia e incitação a crimes contra a vida é a categoria com mais denúncias nestes 12 anos: foram 702.698 denúncias envolvendo 118.443 URLs distintas em redes sociais como Facebook e Twitter, das quais 29.462 foram removidas.

A partir da denúncia feita na plataforma da SaferNet, a Polícia Federal e o Ministério Público Federal investigam os casos e podem pedir a remoção dos posts nas plataformas. Como é possível denunciar nas próprias redes sociais, Facebook e Twitter podem remover as páginas mesmo antes de a investigação ser finalizada.

Em 2017, a SaferNet criou mais uma categoria de análise de discurso de ódio: violência ou discriminação contra mulheres. Os dados ainda estão em processo de consolidação e, segundo a organização, estarão disponíveis a partir do ano que vem. Antes da criação dessa categoria, o discurso de ódio contra mulheres – como ameaças de estupro, por exemplo – entrava na categoria de incitação de crimes contra vida.

Com a entrada em vigor em abril deste ano da lei 13.642/2018, conhecida como Lei Lola, em referência à blogueira e ativista feminista Lola Aronovich, a difusão de conteúdo misógino na internet passou a ser investigada pela Polícia Federal. Cunha, no entanto, observa que falta a tipificação deste tipo de crime para que ele possa ser punido.

“Apesar de ter sido aprovada uma lei que atribui à Polícia Federal a investigação de crimes de misoginia, não temos nada que tipifique o que é discurso de ódio contra mulheres no Código Penal. Por isso, ainda é uma interrogação como a polícia vai tipificar esses casos”, disse Cunha.

As denúncias de racismo foram responsáveis por 28% do total recebido pela ONG nos últimos 12 anos e foram a que mais motivaram remoções de páginas e conteúdos. Foram 567.497 denúncias de racismo envolvendo 96.179 páginas (URLs) distintas. Dessas, 32.095 foram removidas.

De 2006 a 2017 foram também realizadas 268.030 denúncias de intolerância religiosa, 235.237 denúncias de neonazismo, 150.367 denúncias de xenofobia e 137.312 denúncias de homofobia.

Aumento de denúncias em período eleitoral

Segundo dados da SaferNet disponibilizados à Gênero e Número, entre 16 de agosto e 28 de outubro deste ano a organização recebeu 13.999 denúncias de discurso de ódio no Facebook e no Twitter.

Já nas eleições gerais anteriores, em 2014, entre 1º de julho e 6 de outubro a plataforma recebeu 8.429 denúncias sobre posts com discurso de ódio no Facebook e no Twitter. Naquele ano, no dia seguinte ao segundo turno o número de denúncias bateu recorde e superou toda a campanha do primeiro turno: foram 10.376 denúncias referentes a 6.909 URLs nas duas redes sociais.

“O discurso de ódio é usado como plataforma política por esses atores que estão disputando as eleições e pelos usuários comuns da internet”, disse Cunha. Ela lembra que após a divulgação do resultado do primeiro e do segundo turno das eleições de 2014, “a polarização dos votos acabou sendo um gatilho para as pessoas serem xenófobas e se manifestarem contra nordestinos”, que votaram então majoritariamente em Dilma Rousseff (PT).

Além de operar a Central Nacional de Denúncias de Crimes Cibernéticos, a SaferNet oferece um serviço de orientação sobre crimes e violações de direitos humanos na internet, de forma anônima e sigilosa. O Helpline é formado por uma equipe com profissionais especializados no tema e que orientam sobre prevenção de violência online, como denunciar e facilitar a identificação de instituições que possam auxiliar. Desde 2007, o helpline já atendeu 15.983 pessoas e 69% delas eram mulheres.

*Vitória Régia da Silva é jornalista e colaboradora da Gênero e Número.

Mais sobre Política 2018: https://www.generonumero.media/politica-2018/

Contato: https://www.generonumero.media/contato/

Lola Ferreira

Formada pela PUC-Rio, foi fellow 2021 do programa Dart Center for Journalism & Trauma, da Escola de Jornalismo da Universidade de Columbia. Escreveu o manual de "Boas Práticas na Cobertura da Violência Contra a Mulher", publicado em Universa. Já passou por Gênero e Número, HuffPost Brasil, Record TV e Portal R7.

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