Áurea Carolina (PSOL) foi a veredora mais votada para a câmara de Belo Horizonte| Foto: Patrick Arley

Com vitórias marcantes na vereança, mulheres seguem sub-representadas após primeiro turno

Número de eleitas às prefeituras é menor que em 2012 e quadros da vereança, por gênero, não têm mudanças radicais após eleições, apesar de novos nomes indicarem possibilidade de renovação de debates e pautas em 2017

As eleições 2016 ainda estão em curso em 18 capitais brasileiras e em outras 37 cidades com mais de 200 mil habitantes, que terão seus prefeitos definidos apenas no dia 30 de outubro, mas já é possível analisar a diversidade – ou a falta dela – na representação por gênero e raça no pós-pleito. De acordo com análises do Inesc (Instituto de Estudos Socioeconômicos), apenas 12% do total de eleitos para prefeituras até o momento são mulheres, e nenhuma é preta ou parda. Essas mulheres que assumem em 2017 somam 638, número ainda menor do que em 2012, quando foram 674. Não há a possibilidade de o segundo turno reverter esse declínio. Elas concorrem à prefeitura ainda em sete cidades, incluindo duas capitais – Campo Grande, com Rose Modesto (PSDB), e Florianópolis (PP), com Angela Amin (PP).

Nas outras nove capitais onde a prefeitura já foi decidida, somente uma mulher foi eleita para o cargo majoritário. Teresa Surita (PMDB), em Boa Vista, que ocupará o cargo pela quinta vez. Nas câmaras das capitais, as mulheres vereadoras somam 107 entre os 811 eleitos. Representam 13% do total de vagas para essas casas. Como analisou o Inesc, em nove capitais do país (São Luís, Recife, Campo Grande, Cuiabá, Curitiba, Porto Alegre, Florianópolis, Aracaju e São Paulo) não há também nenhuma mulher preta ou parda eleita para a vereança. “Um debate que precisa ser incorporado ainda à agenda política é o de cotas raciais nas eleições, como já foi iniciado o de gênero, pois olhamos os dados e percebemos que nem mesmo a Lei de Cotas tem impulsionado as eleições de mulheres, e muito menos de mulheres negras”, diz a doutora em Antropologia Social e assessora política do Inesc Carmela Zigoni.

Apesar do cenário ainda bastante desigual em número de cadeiras ocupadas, há mulheres que alcançaram, nestas eleições, resultados inéditos e sinalizam que movimentos sociais que ocuparam as ruas nos últimos dois anos, como o feminista, conseguiram refletir nas urnas parte das reivindicações por mudanças. Em Belo Horizonte, Áurea Carolina (PSOL), com 17.420 votos, obteve a melhor votação para o cargo de vereador das últimas três eleições na cidade. Mulher negra e feminista, Áurea teve 1,45% dos votos válidos, de acordo com o Tribunal Superior Eleitoral. No Rio de Janeiro, outra candidata negra que levantou a bandeira do feminismo e da periferia, Marielle Franco (PSOL), elegeu-se como a quinta mais votada, com 46.502 votos. Ela vai encarar a política branca e conservadora, que manteve seu lugar na câmara, representada por figuras como Carlos Bolsonaro (PSC), o candidato mais votado no Rio de Janeiro com cerca de 107 mil votos.

No Recife, outra capital em que as mulheres se destacaram nessas eleições à vereança, a ala progressista da política não tem muito a comemorar. Mais votada entre todos os candidatos, com 15.357 votos, Michelle Collins (PP), casada com o pastor Cleiton Collins, denomina-se missionária e serva de Deus. Ela é seguida, no ranking dos mais bem eleitos na capital pernambucana, pela candidata Irmã Aimée, que angariou 14.338 votos e irá reforçar a bancada religiosa da câmara.

Homens brancos são quase ⅔

A grande maioria dos eleitos no primeiro turno é homem e branco. Nas capitais, eles são 62,9% prefeitos eleitos no primeiro turno, e ainda 49,8% dos vereadores nas câmaras. Os homens negros e pardos são 36% dos eleitos para a vereança nas capitais.

Colaborou Luciana Guedes, do Inesc, com tratamento da base de dados do TSE

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