As eleições 2016 ainda estão em curso em 18 capitais brasileiras e em outras 37 cidades com mais de 200 mil habitantes, que terão seus prefeitos definidos apenas no dia 30 de outubro, mas já é possível analisar a diversidade – ou a falta dela – na representação por gênero e raça no pós-pleito. De acordo com análises do Inesc (Instituto de Estudos Socioeconômicos), apenas 12% do total de eleitos para prefeituras até o momento são mulheres, e nenhuma é preta ou parda. Essas mulheres que assumem em 2017 somam 638, número ainda menor do que em 2012, quando foram 674. Não há a possibilidade de o segundo turno reverter esse declínio. Elas concorrem à prefeitura ainda em sete cidades, incluindo duas capitais – Campo Grande, com Rose Modesto (PSDB), e Florianópolis (PP), com Angela Amin (PP).
Nas outras nove capitais onde a prefeitura já foi decidida, somente uma mulher foi eleita para o cargo majoritário. Teresa Surita (PMDB), em Boa Vista, que ocupará o cargo pela quinta vez. Nas câmaras das capitais, as mulheres vereadoras somam 107 entre os 811 eleitos. Representam 13% do total de vagas para essas casas. Como analisou o Inesc, em nove capitais do país (São Luís, Recife, Campo Grande, Cuiabá, Curitiba, Porto Alegre, Florianópolis, Aracaju e São Paulo) não há também nenhuma mulher preta ou parda eleita para a vereança. “Um debate que precisa ser incorporado ainda à agenda política é o de cotas raciais nas eleições, como já foi iniciado o de gênero, pois olhamos os dados e percebemos que nem mesmo a Lei de Cotas tem impulsionado as eleições de mulheres, e muito menos de mulheres negras”, diz a doutora em Antropologia Social e assessora política do Inesc Carmela Zigoni.
Apesar do cenário ainda bastante desigual em número de cadeiras ocupadas, há mulheres que alcançaram, nestas eleições, resultados inéditos e sinalizam que movimentos sociais que ocuparam as ruas nos últimos dois anos, como o feminista, conseguiram refletir nas urnas parte das reivindicações por mudanças. Em Belo Horizonte, Áurea Carolina (PSOL), com 17.420 votos, obteve a melhor votação para o cargo de vereador das últimas três eleições na cidade. Mulher negra e feminista, Áurea teve 1,45% dos votos válidos, de acordo com o Tribunal Superior Eleitoral. No Rio de Janeiro, outra candidata negra que levantou a bandeira do feminismo e da periferia, Marielle Franco (PSOL), elegeu-se como a quinta mais votada, com 46.502 votos. Ela vai encarar a política branca e conservadora, que manteve seu lugar na câmara, representada por figuras como Carlos Bolsonaro (PSC), o candidato mais votado no Rio de Janeiro com cerca de 107 mil votos.