Com o Programa Nacional de Imunização (PNI) absolutamente heterogêneo em todo o país, com cada estado e município decidindo suas próprias regras, por causa da escassez de vacinas contra a covid-19, lactantes também não têm tido acesso uniformizado à vacinação no território nacional. Mapeamento da Gênero e Número mostra que, até hoje, elas só tinham vacinação assegurada, independentemente da idade, em nove estados, ainda que a decisão final fosse dos municípios.
As decisões de cada estado passam ainda pela idade de filhos e filhas e pela comorbidade das mães. No Rio Grande do Norte, por exemplo, só podem ser vacinadas mães com bebês de até 12 meses. Já em São Paulo, apenas as lactantes com comorbidades estão nos grupos prioritários e podem receber a vacina com qualquer idade.
Até 7 de julho, 115.589 puérperas haviam sido vacinadas com a primeira dose e 4.815 com ambas as doses em todo o país, segundo dados do painel de vacinação do Ministério da Saúde. Vale ressaltar, no entanto, que nem todas as puérperas são lactantes, visto que nem todas amamentam os filhos.
Lactantes e a vacinação contra covid-19
Decisão do Congresso vai estender a prioridade às mulheres que estão amamentando para todo o país
RR
AP
AM
PA
CE
MA
RN
PB
PI
AC
PE
TO
AL
RO
SE
BA
MT
DF
GO
9
estados em que lactantes já estão na fila de prioridade de vacinação
MG
MS
ES
SP
RJ
PR
Em SP, apenas lactantes com comorbidades
SC
RS
fonte Secretarias estaduais de Saúde
Lactantes e a vacinação contra covid-19
Decisão do Congresso vai estender a prioridade às mulheres que estão amamentando para todo o país
9
estados em que lactantes já estão na fila de prioridade de vacinação
RR
AP
AM
PA
CE
MA
RN
PI
PB
AC
PE
TO
RO
AL
BA
SE
MT
DF
GO
MG
MS
ES
SP
RJ
PR
SC
RS
Em SP, apenas lactantes com comorbidades
fonte Secretarias estaduais de Saúde
Equidade na vacinação
Projeto de lei do Senador Jean Paul Prates (PT-RN), aprovado por unanimidade no Senado, foi aprovado também na Câmara de Deputados nesta quinta-feira (8) em regime de urgência. O texto coloca lactantes como parte do grupo prioritário no PNI, juntamente com gestantes e puérperas. Estes dois grupos já têm vacinação garantida por todos os estados, apesar da suspensão do uso da Astrazeneca para gestantes desde maio.
O principal argumento da vacinação de lactantes é a proteção 2×1: algumas pesquisas já mostraram que anticorpos que atuam contra a Covid-19 podem ser transmitidos através do leite materno. A proteção vacinal, portanto, se estenderia aos filhos e filhas pequenos, que, pela idade, não podem lançar mão de estratégias comuns de proteção, como o uso de máscaras. Por outro lado, ao contrário de grávidas e puérperas, não há evidências de que lactantes estejam mais vulneráveis à covid-19. Outros argumentos incluem a redução das mortes maternas, o incentivo à amamentação prolongada e mesmo a proteção das lactantes que voltaram a trabalhar.
Vacinação de puérperas por estado
Nem todas são lactantes, mas dados mostram que vacinação está mais avançada para puérperas em estados onde lactantes estão no grupo prioritário
Número de
puérperas
vacinadas*
As cores representam
as regiões
O tamanho de cada estado é a % de puérperas vacinadas
22 mil
MG
no
menor
maior
20 mil
ne
co
sp
sul
2,8%
em RR
55,4%
no MT
18 mil
16 mil
14 mil
BA
12 mil
RJ
PR
10 mil
RS
8 mil
PE
PA
6 mil
GO
MT
SP tem 92 mil puérperas mas não disponibilizou dados da vacinação do grupo
MA
SC
ES
4 mil
RN
AM
RO
2 mil
PB
MS
DF
CE
SE
AC
PI
TO
AL
RR
SP
AP
1 mil
2 mil
10 mil
20 mil
100 mil
Número de puérperas
(registros de nascimento entre maio e junho de 2021)
* vacinadas com primeira dose e dose única
dados referentes ao dia 07/07/2021
fonte Portal da Transparência do Registro Civil/ Ministério da Saúde
Título
Subtítulo
Vacinação de puérperas por estado
Nem todas são lactantes, mas dados mostram que vacinação está mais avançada para puérperas em estados onde lactantes estão no grupo prioritário
As cores representam
as regiões
O tamanho de cada estado é a % de puérperas vacinadas
menor
maior
no
ne
co
sp
sul
2,8%
em RR
55,4%
no MT
Número de
puérperas
vacinadas*
22 mil
MG
20 mil
18 mil
16 mil
14 mil
BA
12 mil
RJ
PR
10 mil
RS
8 mil
PE
PA
6 mil
GO
MA
MT
SC
ES
4 mil
RN
AM
SP tem 92 mil puérperas mas não disponibilizou dados da vacinação do grupo
2 mil
PB
RO
DF
MS
CE
SE
PI
AC
TO
AL
RR
SP
AP
1 mil
20 mil
100 mil
Número de puérperas
(registros de nascimento entre maio e junho de 2021)
* vacinadas com primeira dose e dose única
dados referentes ao dia 07/07/2021
fonte Portal da Transparência do Registro Civil/ Ministério da Saúde
A mobilização pela inclusão das lactantes surgiu na sociedade civil, impulsionada, há pouco mais de um mês, pelo grupo Lactantes pela Vacina, criado na Bahia. O movimento é nacional e tem grupos em todos os estados, menos Roraima. Uma das coordenadoras, Julia Maia, afirma que a equidade racial no acesso à vacina também é pauta central do movimento, que tem grupo de trabalho de mães negras e atua na divulgação de informação sobre a vacinação:
“No início fomos até acusadas de ser um movimento de blogueiras, de mães elitizadas querendo furar fila. Mas o grupo tem mães solo, mães negras. Fizemos parcerias com órgãos gestores e agentes comunitários para que a informação da vacina circulasse também em grupos de WhastApp. A abordagem interseccional é fundamental e nossas práticas têm que estar alinhadas a isso”.
No país, há cerca de 11 milhões de mães solo, sendo que quase 8 milhões são mulheres negras. Entre elas, nada menos que 63% estão abaixo da linha da pobreza, condição que prejudica também a amamentação, etapa fundamental no crescimento das crianças e da relação das mães com os filhos.
* Maria Martha Bruno é diretora de conteúdo e Marília Ferrari é diretora de arte da Gênero e Número
Jornalista multimídia, com experiência na cobertura de política e cultura, integra a equipe da Gênero e Número desde 2018. Durante três anos, foi produtora da NBC News, onde trabalhou majoritariamente para o principal noticiário da emissora, o “NBC Nightly News”. Entre 2016 e 2020, colaborou com a Al Jazeera English, como produtora de TV. Foi repórter e editora da Rádio CBN e correspondente do UOL em Buenos Aires. Jornalista pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, é mestre em Comunicação e Cultura pela mesma instituição, e atualmente cursa o programa de Doutorado em Comunicação na Texas A&M University, nos EUA.
Contato:
Se você chegou até aqui, apoie nosso trabalho.
Você é fundamental para seguirmos com o nosso trabalho, produzindo o jornalismo urgente que fazemos, que revela, com análises, dados e contexto, as questões críticas das desigualdades de raça e de gênero no país.
Somos jornalistas, designers, cientistas de dados e pesquisadoras que produzem informação de qualidade para embasar discursos de mudança. São muitos padrões e estereótipos que precisam ser desnaturalizados.
A Gênero e Número é uma empresa social sem fins lucrativos que não coleta seus dados, não vende anúncio para garantir independência editorial e não atende a interesses de grandes empresas de mídia.