Mãe de gêmeos se vacina contra a covid em Vitória da Conquista (BA) | Foto: Arquivo pessoal

Após pressão da sociedade civil, Congresso garante lactantes no grupo prioritário de vacinação contra a covid-19

Em meio à desorganização do Programa Nacional de Imunização, lactantes só haviam conseguido garantir vacinação em 9 estados

Por Maria Martha Bruno e Marília Ferrari *

  • Equidade na vacinação 

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Com o Programa Nacional de Imunização (PNI) absolutamente heterogêneo em todo o país, com cada estado e município decidindo suas próprias regras, por causa da escassez de vacinas contra a covid-19, lactantes também não têm tido acesso uniformizado à vacinação no território nacional. Mapeamento da Gênero e Número mostra que, até hoje, elas só tinham vacinação assegurada, independentemente da idade,  em nove estados, ainda que a decisão final fosse dos municípios.

As decisões de cada estado passam ainda pela idade de filhos e filhas e pela comorbidade das mães. No Rio Grande do Norte, por exemplo, só podem ser vacinadas mães com bebês de até 12 meses. Já em São Paulo, apenas as lactantes com comorbidades estão nos grupos prioritários e podem receber a vacina com qualquer idade.

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Até 7 de julho, 115.589 puérperas haviam sido vacinadas com a primeira dose e 4.815 com ambas as doses em todo o país, segundo dados do painel de vacinação do Ministério da Saúde. Vale ressaltar, no entanto, que nem todas as puérperas são lactantes, visto que nem todas amamentam os filhos.

Lactantes e a vacinação contra covid-19

Decisão do Congresso vai estender a prioridade às mulheres que estão amamentando para todo o país

RR

AP

AM

PA

CE

MA

RN

PB

PI

AC

PE

TO

AL

RO

SE

BA

MT

DF

GO

9

estados em que lactantes já estão na fila de prioridade de vacinação

MG

MS

ES

SP

RJ

PR

Em SP, apenas lactantes com comorbidades

SC

RS

fonte Secretarias estaduais de Saúde

Lactantes e a vacinação contra covid-19

Decisão do Congresso vai estender a prioridade às mulheres que estão amamentando para todo o país

9

estados em que lactantes já estão na fila de prioridade de vacinação

RR

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Em SP, apenas lactantes com comorbidades

fonte Secretarias estaduais de Saúde

Equidade na vacinação 

Projeto de lei do Senador Jean Paul Prates (PT-RN), aprovado por unanimidade no Senado, foi aprovado também na Câmara de Deputados nesta quinta-feira (8) em regime de urgência. O texto coloca lactantes como parte do grupo prioritário no PNI, juntamente com gestantes e puérperas. Estes dois grupos já têm vacinação garantida por todos os estados, apesar da suspensão do uso da Astrazeneca para gestantes desde maio.

O principal argumento da vacinação de lactantes é a proteção  2×1: algumas pesquisas já mostraram que anticorpos que atuam contra a Covid-19 podem ser transmitidos através do leite materno. A proteção vacinal, portanto, se estenderia aos filhos e filhas pequenos, que, pela idade, não podem lançar mão de estratégias comuns de proteção, como o uso de máscaras. Por outro lado, ao contrário de grávidas e puérperas, não há evidências de que lactantes estejam mais vulneráveis à covid-19. Outros argumentos incluem a redução das mortes maternas, o incentivo à amamentação prolongada e mesmo a proteção das lactantes que voltaram a trabalhar.

Vacinação de puérperas por estado

Nem todas são lactantes, mas dados mostram que vacinação está mais avançada para puérperas em estados onde lactantes estão no grupo prioritário

Número de

puérperas

vacinadas*

As cores representam

as regiões

O tamanho de cada estado é a % de puérperas vacinadas

22 mil

MG

no

menor

maior

20 mil

ne

co

sp

sul

2,8%

em RR

55,4%

no MT

18 mil

16 mil

14 mil

BA

12 mil

RJ

PR

10 mil

RS

8 mil

PE

PA

6 mil

GO

MT

SP tem 92 mil puérperas mas não disponibilizou dados da vacinação do grupo

MA

SC

ES

4 mil

RN

AM

RO

2 mil

PB

MS

DF

CE

SE

AC

PI

TO

AL

RR

SP

AP

1 mil

2 mil

10 mil

20 mil

100 mil

Número de puérperas

(registros de nascimento entre maio e junho de 2021)

* vacinadas com primeira dose e dose única

dados referentes ao dia 07/07/2021

fonte Portal da Transparência do Registro Civil/ Ministério da Saúde

Título

Subtítulo

Vacinação de puérperas por estado

Nem todas são lactantes, mas dados mostram que vacinação está mais avançada para puérperas em estados onde lactantes estão no grupo prioritário

As cores representam

as regiões

O tamanho de cada estado é a % de puérperas vacinadas

menor

maior

no

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co

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sul

2,8%

em RR

55,4%

no MT

Número de

puérperas

vacinadas*

22 mil

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20 mil

18 mil

16 mil

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12 mil

RJ

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10 mil

RS

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SP tem 92 mil puérperas mas não disponibilizou dados da vacinação do grupo

2 mil

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PI

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AL

RR

SP

AP

1 mil

20 mil

100 mil

Número de puérperas

(registros de nascimento entre maio e junho de 2021)

* vacinadas com primeira dose e dose única

dados referentes ao dia 07/07/2021

fonte Portal da Transparência do Registro Civil/ Ministério da Saúde

LEIA TAMBÉM: Um retrato das mães solo na pandemia

A mobilização pela inclusão das lactantes surgiu na sociedade civil, impulsionada, há pouco mais de um mês, pelo grupo Lactantes pela Vacina, criado na Bahia. O movimento é nacional e tem grupos em todos os estados, menos Roraima. Uma das coordenadoras, Julia Maia, afirma que a equidade racial no acesso à vacina também é pauta central do movimento, que tem grupo de trabalho de mães negras e atua na divulgação de informação sobre a vacinação:

“No início fomos até acusadas de ser um movimento de blogueiras, de mães elitizadas querendo furar fila. Mas o grupo tem mães solo, mães negras. Fizemos parcerias com órgãos gestores e agentes comunitários para que a informação da vacina circulasse também em grupos de WhastApp. A abordagem interseccional é fundamental e nossas práticas têm que estar alinhadas a isso”.

No país, há cerca de 11 milhões de mães solo, sendo que quase 8 milhões são mulheres negras. Entre elas, nada menos que 63% estão abaixo da linha da pobreza, condição que prejudica também a amamentação, etapa fundamental no crescimento das crianças e da relação das mães com os filhos. 

* Maria Martha Bruno é diretora de conteúdo e Marília Ferrari é diretora de arte da Gênero e Número

Maria Martha Bruno

Jornalista multimídia, com experiência na cobertura de política e cultura, integra a equipe da Gênero e Número desde 2018. Durante três anos, foi produtora da NBC News, onde trabalhou majoritariamente para o principal noticiário da emissora, o “NBC Nightly News”. Entre 2016 e 2020, colaborou com a Al Jazeera English, como produtora de TV. Foi repórter e editora da Rádio CBN e correspondente do UOL em Buenos Aires. Jornalista pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, é mestre em Comunicação e Cultura pela mesma instituição, e atualmente cursa o programa de Doutorado em Comunicação na Texas A&M University, nos EUA.

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