A não ser que você tenha passado o último ano fora do Brasil e sem nenhum contato com brasileiros nas redes sociais, você pelo menos ouviu falar sobre algumas das revoluções ocorridas na música pop brasileira em 2017. Anitta, Pabllo Vittar e as “feminejas” são alguns dos fenômenos que ocuparam meios tradicionais como rádios e programas de TV e também, e principalmente, as plataformas de streaming e as redes sociais.
Neste início de 2018, a Gênero e Número mergulhou no pop para explorar como as artistas mais populares e as canções mais ouvidas no Brasil no ano passado se relacionam com o recente fortalecimento das lutas das mulheres e das LGBTs por igualdade, respeito e protagonismo.
Abrimos nossa oitava edição celebrando as cantoras brasileiras mais ouvidas em 2017 e, claro, questionando: as mulheres se destacaram em cima dos palcos, mas quem é que dá a letra – e a música – nos bastidores? Quem são os “guardiões” dos espaços mais privilegiados do mercado musical brasileiro? E como as mulheres estão abrindo caminhos para elas e para outras profissionais da música? A resposta pode estar na fala da comunicadora e especialista em mídia e cultura Joanna Burigo: “podemos corroer as estruturas de dentro. Espero que essas mulheres que hackeiam espaços tradicionalmente masculinos usem seus talentos para mudar o jogo de dentro dele. E confio na inteligência e estratégia delas, pois penso que seja isso mesmo que elas estão fazendo.”
A mudança também está nas métricas: números de plays em plataformas de streaming e de curtidas e seguidores nas redes sociais já valem tanto quanto – ou até mais – do que execuções nas rádios e discos vendidos como medida de sucesso musical. E aí entra o trabalho incansável dos fãs que, embora sejam de carne e osso, se organizam por meio de Twitter, Facebook e Whatsapp e promovem mutirões de curtidas, votos e plays para colocar seus ídolos no topo de rankings internet afora. Os fãs-bots são o tema de nossa segunda reportagem, que mapeia os métodos e as ações dos fandoms mais ativos do Brasil.
A propósito das redes sociais, outra matéria dessa edição traz as palavras mais usadas no Twitter por fãs, haters e outros usuários em relação aos nomes de três dos cantores mais populares no país em 2017. Analisamos tuítes sobre Marília Mendonça, Pabllo Vittar e MC Kevinho para descobrir que discursos circulam nas redes e como eles podem estar relacionados às percepções do público sobre artistas de diferentes gêneros – inclusive musicais.
E o que Pabllo Vittar e Rogéria, a autodenominada “travesti da família brasileira”, teriam em comum? Este é um dos tópicos da conversa da Gênero e Número com a pesquisadora Rose de Melo Rocha, professora do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Práticas de Consumo da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) de São Paulo. Rocha tem refletido sobre o que ela chama de “artivismo musical de gênero”, que teria como expoentes, além de Pabllo, o rapper Rico Dalasam e as cantoras Linn da Quebrada, Gloria Groove e Lia Clark. Na entrevista desta edição, a pesquisadora comenta como essas “artivistas” refletem e engendram possibilidades de transformação social por meio da música, inventando “resistências” e “re-existências” periféricas.
E se muitas mulheres e LGBTs têm promovido avanços com suas canções, alguns homens continuam perdendo o bonde da história ao promover machismo, abuso e até violência sexual em suas letras. Alguns desses cantores estão inclusive nos rankings de mais tocados das plataformas musicais de streaming, o que demonstra que o discurso misógino encontra eco em meio a parcela significativa do público brasileiro. Nossa última reportagem desta edição, examina este lamentável fenômeno e destaca as cantoras que, mais uma vez, saem à frente e reagem à violência contra as mulheres também em suas músicas.
O pop é político. Duvida? Leia a edição n.8 da Gênero e Número.
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