Anote este nome: Major Denice, candidata à prefeitura de Salvador pelo PT

A Gênero e Número apresenta quinzenalmente uma mulher que irá disputar as eleições 2020 e que merece ficar no seu radar

Por Lola Ferreira*

Criadora da Ronda Maria da Penha, na PMBA, pretende levar para a prefeitura de Salvador boas políticas para mulheres | Foto: Divulgação

Major Denice Santiago já é um nome de referência nas políticas de segurança há pelo menos cinco anos, inclusive com premiações recebidas pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública e do Senado Federal. A soteropolitana é responsável pela criação da Ronda Maria da Penha (RMP), na Polícia Militar da Bahia (PMBA), um serviço que atende de forma constante mulheres vítimas de violência doméstica. Antes da RMP, criou o núcleo de gênero dentro da PMBA. 

Agora, em 2020, a militar será candidata a um cargo eletivo pela primeira vez, disputando a prefeitura da capital mais negra do Brasil pelo Partido dos Trabalhadores (PT). Mãe, negra e trabalhadora, ela acredita que suas credenciais são fundamentais para criar políticas públicas eficazes em Salvador. A tônica do seu trabalho, diz, segue a sua trajetória na Polícia Militar, em defesa dos direitos das mulheres, principalmente as mães e de periferia. 

“A minha história se confunde com a de muitas pessoas dessa cidade. Eu trago para esse plano de governo as minha experiências de vida, que foram vividas, não lidas em artigos ou vistas em filmes. Trago na minha pele e sei das desigualdades que existem nessa cidade.”

 

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Conheça a candidata.

Como foi a sua trajetória dentro do Partido dos Trabalhadores e quando decidiu se candidatar?

A política partidária não estava no meu radar a princípio. Eu estava trabalhando na Ronda Maria da Penha, exercitando o que eu mais gosto de fazer, que é cuidar e atuar na proteção das pessoas, principalmente das mulheres. Quando me chegou esse convite do PT, vi ali uma oportunidade de que o que eu fazia até então fazer para toda a minha cidade.

Iniciamos o processo de inserção no partido, compreensão e aproximação também com as pessoas, participamos da escolha da candidatura e quando a minha candidatura foi escolhida, foi um momento único de felicidade. Tenho uma relação longa com o PT, foi meu primeiro voto. Quando eu tirei meu título, fui andando para tirar o título e votar em Lula. Não queria perder a oportunidade.

A campanha é um processo de aprendizagem, e eu adoro aprender. Tem sido maravilhoso. Me divirto e aprendo muito, e a cada dia aprendo mais. Não tenho achado cansativo, tenho achado estimulante. Me sinto como uma criança que está de frente pra melhor coisa da sua vida. Cada agenda, cada atividade me deixa feliz.

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O que mais me fascina é a possibilidade de inspirar nossos homens, mulheres e crianças de que nós podemos, de que nós devemos estar em espaços de poder e fazer a revolução a partir das nossas próprias vivências

Você carrega algumas características que, hoje, recebem atenção na política: é mulher negra, mãe e trabalhadora. Como essas credenciais influenciam na sua forma de fazer política?

Elas são fundamentais. Eu estou nessa candidatura para cuidar da vida das pessoas, como eu sempre fiz, e buscar reduzir as desigualdades que são demarcadas também na minha história. A minha história se confunde com a de muitas pessoas dessa cidade. Eu trago para esse plano de governo as minha experiências de vida, que foram vividas, não lidas em artigos ou vistas em filmes. Trago na minha pele e sei das desigualdades que existem nessa cidade.

 

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Então este é o principal ponto que demonstra a importância da sua candidatura em Salvador?

Esse é um ponto. E um outro ponto é Salvador ser a cidade mais negra fora da África e não ter, até hoje, um prefeito negro eleito pelo povo. Então o que mais me fascina é a possibilidade de inspirar nossos homens, mulheres e crianças de que nós podemos, de que nós devemos estar em espaços de poder e fazer a revolução a partir das nossas próprias vivências.

Direitos das mulheres e da população LGBT+ são pautas quentes na eleição deste ano. Como pretende visibilizar essas pautas na sua campanha?

Nosso plano de governo foi participativo, com mais de 4.000 pessoas. LGBT+s, pessoas idosas, pessoas com deficiência, grupos que pensam as políticas de drogas. Conversamos com crianças, adolescentes, mulheres, óbvio, assistentes sociais, muita gente do desenvolvimento urbano. É uma pena não ter conseguido incluir tudo que todos trouxeram no plano de governo, mas aprendi muito e isso me ajuda muito. 

 

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A militarização, especialmente a Polícia Militar, é alvo de muitas críticas nos partidos progressistas, como o próprio PT. Por outro lado, é bandeira de muitos direitistas. Como pretende manter o voto da esquerda e conquistar os conservadores?

Junto à esquerda, meu ponto é que basta olhar a minha biografia e meu trabalho, desde lá atrás, quando fiz trabalho social com crianças que trabalhavam nos semáforos, passando pelo trabalho das questões de gênero dentro da Polícia Militar e, depois, quando eu construí essa polícia que acolhe, que senta no sofá e conversa, que quando sai, sente saudades. 

A corporação traz alguns estigmas e marcas que são complexas, mas que não são, de forma alguma, a característica total dos trabalhadores que a compõem.

Em relação aos outros eleitores, posso dizer que a segurança pública, esse ponto nevrálgico da vida da nossa cidade, é um lugar que eu domino, que eu sei como fazer e resolver.

 

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Qual principal proposta de sua campanha que os eleitores precisam conhecer? 

Eu sou uma mulher da periferia. Vim de uma família humilde e desde sempre meus pais me ensinaram, nos ensinaram, que era a educação que iria transformar as nossas vidas. Se eu passei em concurso público cedo, foi por seguir essa linha dos meus pais, que a educação é a transformação. Se eu fiz graduação, mestrado e estou fazendo doutorado, é porque entendo que a educação transforma vidas. 

Se fosse possível eleger uma principal proposta, seria a educação. Pensar a educação, e também a saúde, com esse olhar transversal do feminino. Porque somos nós, mulheres, que ganhamos quando nossos filhos estão na creche, encaminhados.

As mulheres se preocupam muito mais com a saúde dos seus do que com a própria, então vamos pensar em um espaço de saúde que seja, de fato, cuidadoso com as pessoas. Um espaço que cuide da saúde, não da doença. Vamos pensar educação, saúde e políticas públicas de combate à desigualdade.

*Lola Ferreira é repórter da Gênero e Número.

Lola Ferreira

Formada pela PUC-Rio, foi fellow 2021 do programa Dart Center for Journalism & Trauma, da Escola de Jornalismo da Universidade de Columbia. Escreveu o manual de "Boas Práticas na Cobertura da Violência Contra a Mulher", publicado em Universa. Já passou por Gênero e Número, HuffPost Brasil, Record TV e Portal R7.

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