Por Anielle Franco
Quando apoiei minha irmã em sua campanha em 2016, pude acompanhar de perto uma campanha política que era feita com afeto. Para algumas pessoas essa afirmação pode soar um tanto quanto piegas. Mas pra nós, era verdadeiramente como víamos aquela potência de mulher que destilava conhecimento e força.
Caminhávamos dia e noite pelo rio de janeiro com um imenso orgulho de falar dela. Era adesivo, bandeira, broche e um bolo de panfleto. Para além de todo esse material, trazíamos também a certeza de que poderíamos confiar em alguém que de fato olhasse por nós. Aquela menina que era cria da Maré, com sorrisão largo, cheia de sonhos e personalidade, seria nossa representante.
A mãe, companheira, irmã, filha e acima de tudo parceira de muita gente tinha chegado onde poucas mulheres negras já chegaram. Lembro perfeitamente do dia da eleição, logo após o resultado, a quantidade de mulheres que paravam dizendo que deram seus votos a ela e que confiavam no trabalho que estaria por vir.
A Mari trazia em si a força de viver e uma busca incansável por dias melhores. Ela passava e falava isso por onde andasse. Ela sabia que tinha luz e entendia o papel que deveria cumprir dentro daquela câmara e em qualquer lugar que passasse. Ela sabia que estava ali para honrar nosso povo e nossas mulheres. E assim ela fez enquanto permitiram.
Acompanhar minha irmã eleita foi a certeza de que algo deu certo dentro de nossa família. Eu estava feliz. Ela estava feliz. Mas lamentavelmente nossa alegria durou apenas um ano e três meses.
Eu poderia narrar exatamente o que vi e senti no dia 14 de março quando assassinaram minha irmã, quando a vi dentro daquele carro com sangue escorrendo e quando a observei dentro de um caixão. Além de toda essa dor vieram fake news, ódio, xingamentos, ameaças e o medo crescente de ter que lidar com o incerto. Fora a ausência e a dor da perda.
Eu tinha perdido minha amiga, parceira, confidente, mas também minha política. Era difícil imaginar uma eleição sem ela. Era impossível não pensar onde ela estaria em 2018, 2020 e agora em 2022. Foi numa dor de ausência que decidi, dentro do Instituto Marielle Franco, criar algo que pudesse exemplificar o fazer Marielle e não somente o falar Marielle.
E assim criamos inúmeros projetos que sintetizam e mostram todos os trabalhos feitos por ela. Projetos importantes que falam desde assédio no transporte a espaço-coruja para crianças. Leis que poderiam mudar a vida de muita gente. Era imprescindível falar sobre o trabalho feito por ela e como isso deveria ser espalhado em todo o país.
Era necessário que votássemos por Marielle. Porque votar por Marielle é votar contra a barbárie e esse fascismo assombroso que nos assola desde 2018. Votar por Marielle é votar na esperança, no amor, na educação e nos sonhos. É votar tendo a certeza de estar do lado certo da história. É saber que entre a barbárie e a democracia, teremos a democracia.
Votar por Marielle é votar contra mais de 600 mil mortes durante a pandemia, contra um homem negro morrer asfixiado, contra violência política que muita gente tem enfrentado, contra o racismo, contra a misoginia, contra uma chacina de mais de 20 pessoas, contra a fome, contra o desemprego e contra a corrupção. Acesse a Agenda Marielle e conheça as candidaturas: www.agendamarielle.com/
Votar por Marielle é votar para que mais mulheres negras, trans, quilombolas e indígenas cheguem a lugares jamais imaginados. Votar por Marielle é votar a favor da vida. Votar por Marielle é votar por uma democracia mais estruturada. Votar por Marielle é votar por mim, por você e por todas que virão, para que sejamos livres e donas de nossas próprias histórias.
*Anielle é jornalista, educadora, diretora-executiva do Instituto Marielle Franco e assina cooluna mensal na Gênero e Número.