Faça como a Angélica e fale de aborto

Angélica afirmou ser favorável à legalização do aborto em entrevista ao programa Roda Vida. Foto: TV Cultura / Fernando Frazão-Agência Brasil

Aline Gatto Boueri

Dezembro é o mês da retrospectiva e na Gênero e Número não é diferente. Já que a Angélica levantou a bola do direito ao aborto, fizemos uma curadoria de conteúdos publicados em 2023 sobre o tema, para você chegar cheia de argumentos e dados nas festas de fim de ano da família.

Em entrevista ao programa Roda Viva, na noite de segunda-feira (11/12), a apresentadora disse que é “a favor da mulher ter escolha sobre seu corpo” quando a jornalista Maria Rita Alonso perguntou sua posição sobre a legalização e a descriminalização do aborto.

Angélica também lembrou que “muitas meninas deixam de estudar” quando são obrigadas a levar adiante uma gestação e que vítimas de estupro devem ter acesso ao direito de interromper uma gravidez decorrente dessa violência.

ler Assine a nossa newsletter semanal

Em agosto, a repórter Schirlei Alves foi até Roraima para investigar por que o estado do Norte tem a maior taxa de fecundidade entre meninas de 10 a 14 anos no Brasil. Em visita ao único hospital que oferta o serviço de aborto legal, em Boa Vista, ela conversou com profissionais da saúde que confessaram que convencem meninas que têm direito ao aborto a manter a gestação, o que contraria orientações do Ministério da Saúde para o atendimento desses casos.

Schirlei também visitou abrigos da Operação Acolhida, do governo federal, onde imigrantes venezuelanas relatam casos de violência sexual e afirmam desconhecer o direito ao aborto, ainda que seja previsto pelo Código Penal desde 1940 em situações de gravidez resultado de estupro.

A dificuldade de acesso ao serviço de aborto legal faz com que muitas pessoas que decidem interromper a gestação busquem métodos inseguros, o que cria um problema de saúde pública no lugar do que pode ser um procedimento simples e ambulatorial. Entre 2012 e 2022, 483 mulheres morreram por aborto em hospitais da rede pública, que atende 9 de cada 10 internações por interrupção da gravidez no Brasil.

ler Hospitalizações por aborto no SUS caem 18% em 10 anos

Em setembro, produzimos uma série de vídeos sobre aborto com medicamentos para mostrar que, mesmo com as restrições à circulação de misoprostol fora do ambiente hospitalar, o remédio – conhecido no Brasil como Cytotec – salva muitas vidas.

E o que podemos fazer para mudar esse cenário? Primeiro, buscar informações confiáveis e evidências sobre o impacto da criminalização do aborto na vida e na saúde das pessoas que gestam. Também é importante acompanhar o debate sobre a legislação vigente e as modificações propostas. Em outubro, publicamos uma reportagem com tudo que você precisa saber sobre a ADPF 442, ação que questiona constitucionalidade dos artigos do Código Penal que penalizam o aborto.

Por fim, você pode imitar a Angélica e falar sobre esse direito, abertamente. O Brasil está preparado para essa conversa, porque todo mundo ama alguém que já fez um aborto.

O texto é uma adaptação da newsletter enviada em 13/12. Assine e receba toda quarta-feira conteúdos especiais sobre gênero, raça e sexualidade.

Quem leu essa Artigo também viu:

Aline Gatto Boueri

Jornalista formada pela Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (ECo-UFRJ), colabora com a Gênero e Número desde 2017. Metade tijucana e metade porteña, cobre política latino-americana desde 2013, com foco em direitos humanos, feminismos, gênero e raça. Também cuida de criança todos os dias.

Se você chegou até aqui, apoie nosso trabalho.

Você é fundamental para seguirmos com o nosso trabalho, produzindo o jornalismo urgente que fazemos, que revela, com análises, dados e contexto, as questões críticas das desigualdades de raça e de gênero no país.

Somos jornalistas, designers, cientistas de dados e pesquisadoras que produzem informação de qualidade para embasar discursos de mudança. São muitos padrões e estereótipos que precisam ser desnaturalizados.

A Gênero e Número é uma empresa social sem fins lucrativos que não coleta seus dados, não vende anúncio para garantir independência editorial e não atende a interesses de grandes empresas de mídia.

Quero apoiar ver mais