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o Nordeste, 55% das calorias ingeridas vêm de alimentos in natura ou minimamente processados: arroz, feijão, legumes, carne e ovos estão no grupo – a famosa comida de verdade. A região tem uma cultura alimentar rica e diversa, distante da imagem de escassez que circula em outras partes do Brasil.
Ainda assim, 57% das mulheres negras chefes de família do Nordeste sofrem com algum nível de insegurança alimentar. No mês das mulheres, a Gênero e Número lança o projeto Caminhos da Alimentação: o que chega à mesa das mulheres negras para colocar o maior grupo demográfico do Brasil no centro do debate sobre acesso a comida de verdade e mostrar como iniquidades de gênero e raça impactam no acesso a alimentos e nos cuidados com a casa e com a família.
Durante uma semana, acompanhamos quatro mulheres negras responsáveis por gerenciar o dinheiro e os cuidados de suas casas e suas famílias em Pernambuco. Além das entrevistas, coletamos dados sobre suas rotinas de vida e trabalho, e de aquisição e consumo de alimentos, para entender como são constituídos seus hábitos alimentares — as escolhas e as faltas de opção também. Queríamos retratar o que os números não mostram.
O formato híbrido, inédito na Gênero e Número, traz fotografias, vídeos, visualizações de dados e entrevistas com especialistas de peso, para contar essas histórias únicas, mas que evocam a vida de tantas outras mulheres como elas.
Caminhos da Alimentação é um trabalho realizado a muitas mãos nos últimos meses. Usamos grandes bases de dados, como a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), e construímos pequenas bases de dados, com as entrevistadas e suas rotinas alimentares.
Essa narrativa visual é a contribuição da Gênero e Número, ao lado de grandes parceiros, como a FIAN Brasil e o Instituto Ibirapitanga, para dar rosto e voz aos dados, e retratar as complexidades que influenciam o que chega à mesa das mulheres negras.