Uma menina de um ano, morta no primeiro dia de 2020, em São Paulo. Um menino de oito meses, morto no dia 6 de janeiro, no Rio de Janeiro. Uma outro menina, de um ano e meio, morta no dia 26 de janeiro, no Pará. Estes são os casos de morte por sarampo registrados no Brasil em 2020. Diferentemente do novo Covid-19, a doença possui vacina e suas doses estão disponíveis em todas as unidades de saúde.
Até o dia 8 de fevereiro, de acordo com o boletim epidemiológico da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS), do Ministério da Saúde, foram confirmados 338 casos. As suspeitas chegaram a 2.184, ou 53 por dia, e mais de 1.500 permanecem em investigação. São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná são os principais estados com registros dos casos confirmados.
Ainda de acordo com a SVS, a incidência de sarampo por faixa etária é de 1,58 a cada 100 mil habitantes entre 20 e 29 anos. Entre crianças com menos de 12 meses completos, esse índice é de 11,6 a cada 100 mil habitantes.
Para tentar frear a circulação da doença, o Ministério da Saúde investe em campanhas nacionais de vacinação. A última terminou no dia 13 de março, em meio à pandemia do coronavírus. No Rio de Janeiro, 1/3 da meta foi atingida (1 milhão de pessoas) no período de campanha, mas as vacinas contra sarampo ficam disponíveis em todas as unidades de saúde durante o ano todo. Assim também no Acre, Amazonas, Bahia e Distrito Federal, conforme informaram as secretarias de saúde dessas unidades federativas.
A PNAD Contínua 2018, do IBGE, aponta que a taxa de mulheres que cuidam de alguém dentro de casa é de 37%, enquanto para homens essa taxa é de 26%. Por isso, uma doença que afeta mais as crianças também afeta mais as mulheres. São elas as responsáveis pelo cuidado, e são elas que se expõem mais à doença.
Para André Ricardo Araújo da Silva, médico infectologista e professor de Medicina da Universidade Federal Fluminense, o impacto do sarampo nas rotinas familiares pode ser muito maior que o da Covid-19.
“O sarampo tem transmissão aérea, enquanto a da Covid-19 é principalmente pelo contato. Se você frequenta qualquer lugar com alguém infectado, a chance de contaminação é muito maior. Isso impacta mais as famílias, porque sequer podem sair de casa, se conviveram com uma criança ou pessoa contaminada, por até cinco dias depois do fim dos sintomas. O transtorno é muito maior que o causado pelo coronavírus, em termos de isolamento. Se a pessoa infectada sair do quarto, já pode contaminar todos os moradores”, avalia.