Única indígena candidata na Bahia, ela disputa uma cadeira na Câmara dos Deputados. | Foto: Divulgação

NOVOS NOMES: “A sociedade ainda não acredita que nós, indígenas, somos capazes de cuidar dos nossos direitos”, diz Mônica Marapara

A newsletter Política 2018 traz a cada edição quinzenal o perfil de uma mulher que disputará as eleições pela primeira vez em outubro

Por Lola Ferreira*

  • 1. Educação

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  • 2. Protagonismo indígena

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  • 3. Defesa da mulher

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  • 4. Saúde do povo indígena

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  • 5. Candidaturas indígenas suprapartidárias

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A defesa dos direitos dos povos indígenas e a formação continuada de professores que lecionam em aldeias são algumas das principais pautas defendidas pela candidata a deputada federal Mônica Marapara (MDB/BA). Formada em Serviço Social e pós-graduada em Gestão de Políticas Públicas de Gêneros e Raça pela UFBA (Universidade Federal da Bahia), Marapara é de origem kaixana e tem atuação na defesa dos povos indígenas. Ela já trabalhou em prol de indígenas na subsecretaria de Assistência Social do município de Santo Antônio do Içá (AM) e na coordenadoria do DSEI/Bahia (Distrito Sanitário Especial Indígena da Bahia), Estado pelo qual se candidata. Em 2019, ela pretende continuar a garantia da defesa dos povos indígenas, agora na Câmara dos Deputados.

Conheça mais sobre a trajetória e as propostas da candidata em cinco pontos.

1. Educação

Ainda na infância, a candidata e as cinco irmãs saíram da aldeia em que viviam, no Alto Solimões, no Amazonas, fugindo da ação de atravessadores. Os homens cobraram que o pai delas entregasse uma das filhas, especialmente a mais velha, como forma de pagamento de uma dívida. Na cidade de Santo Antônio do Içá, o pai decidiu investir na educação das filhas e, hoje, esta é uma das principais bandeiras de Marapara.

“Graças à educação, estou aqui. A minha situação me colocou em várias situações de vulnerabilidade social. Graças a educadores e professores que puderam me acompanhar, estou aqui. O povo indígena é um povo com cultura diferenciada. A educação tem que ser diferenciada e tem que chegar até lá para que nossos parentes não passem pelo que eu passei. A educação tem que chegar com uma metodologia formada. A cultura abrange principalmente a questão linguística, então temos que ter professores preparados para lidar com os povos”, avalia.

2. Protagonismo indígena

Marapara defende primordialmente as pautas que são caras aos povos indígenas, e acredita que em 2019 o Congresso Nacional estará mais aberto para discussão dessas pautas. Para ela, a eleição do próximo dia 7 de outubro elegerá mais candidatos comprometidos com a causa. Em todo o país, 12 candidatos que se declararam indígenas ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) disputam uma cadeira na Câmara dos Deputados.

“A sociedade ainda não acredita que nós, indígenas, somos capazes de cuidar dos nossos direitos, ser protagonistas da nossa própria vivência. A gente vive em um cenário político em que a gente não entende porque é dessa forma, de várias perdas e, principalmente, para o meu povo, que vem perdendo seus direitos. Estar nos espaços de poder vai influenciar bastante nas nossas lutas e trajetórias”, defende Marapara.

3. Defesa da mulher

“Além de ser uma voz voltada para o meu povo, quero ser uma voz voltada para as mulheres também”, diz Marapara. A candidata acredita na “política da presença”, onde mulheres representam mulheres. Outrora vítima de violência de gênero, hoje ela defende que as leis de proteção devem ser melhor fiscalizadas no Congresso Nacional.

“Há mulheres de diferentes classes, da baixa até a alta, e essas mulheres, por medo de se exporem para a sociedade, acabam sofrendo esse abuso psicológico e acabam achando que não têm espaço, alguém para amparar. E quando uma mulher sofre algum tipo de discriminação e procura um órgão público, não encontra o amparo necessário. A gente precisa dar mais visibilidade à lei do feminicídio. Trazer a discussão para dentro da sociedade”, opina a candidata.

"Estar nos espaços de poder vai influenciar bastante nas nossas lutas e trajetórias." | Foto: Divulgação

4. Saúde do povo indígena

Em 2016, Marapara assumiu a coordenadoria do DSEI/Bahia (Distrito Sanitário Especial Indígena da Bahia), órgão que tem foco em prevenção de doenças nas aldeias indígenas do estado. “Uma das bandeiras que trago para o mandato é a valorização desse sistema para que os povos indígenas tenham uma vida mais digna. É um povo sofrido, com vários direitos retirados. Vamos lutar para fortalecer a questão da saúde.”

5. Candidaturas indígenas suprapartidárias

Além de Marapara, só há mais uma mulher indígena que pleiteia um cargo eletivo pelo MDB em todo o Brasil. A candidata ressalta a importância de um diálogo aberto dentro do partido para avançar com as pautas necessárias, e vê com bons olhos as candidaturas de indígenas em partidos situados em áreas diversas do espectro político.

“Não houve nenhuma resistência dos povos indígenas fazerem parte do MDB da Bahia. Acredito que a visibilidade que temos para falar dos povos indígenas é muito importante.  A gente tem candidatos em vários partidos, no Brasil inteiro e até uma candidata a vice-presidente da República. Quando a gente vê esse fortalecimento, essa discussão na sociedade, acaba esquecendo nossas dores. A gente vai falar da própria trajetória, vivências, e seremos protagonistas da nossa história. Vamos contar o que é o indígena, a nossa realidade, e vamos ocupar o espaço que nos pertence e nos foi negado. Vamos ocupar para defender nossos direitos”, afirma.

*Lola Ferreira e jornalista e colaboradora da Gênero e Número

Lola Ferreira

Formada pela PUC-Rio, foi fellow 2021 do programa Dart Center for Journalism & Trauma, da Escola de Jornalismo da Universidade de Columbia. Escreveu o manual de "Boas Práticas na Cobertura da Violência Contra a Mulher", publicado em Universa. Já passou por Gênero e Número, HuffPost Brasil, Record TV e Portal R7.

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