Mulheres indígenas em ato contra governo Bolsonaro |Foto: Pablo Albarenga /Mídia NINJA

Na primeira Marcha das Mulheres Indígenas, território, corpo e identidade estão no centro do discurso

Voz de destaque nas reivindicações em Brasília, Sonia Guajajara aponta demarcação das terras indígenas como pauta urgente que une todas as etnias

Por Vitória Régia da Silva*

  • Demarcação do território

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Nesta sexta-feira (9), Dia Internacional dos Povos Indígenas, mulheres de diversas etnias rumam a Brasília para participar do Fórum Nacional das Mulheres Indígenas e da primeira Marcha das Mulheres Indígenas, marcada para o dia 13. Com o tema “Território: nosso corpo, nosso espírito”, a manifestação espera reunir 2 mil mulheres e vai se juntar à Marcha das Margaridas, na próxima quarta-feira (14).

“Esse encontro é uma demanda antiga. Já queríamos organizar um evento entre mulheres indígenas para discutir as pautas prioritárias e que são comuns a todas as mulheres. No contexto do recrudescimento do ataque aos povos indígenas e aos nossos direitos, com as mulheres assumindo várias frentes de luta,  achamos que era importante reforçar a luta indígena e a presença feminina”, disse à Gênero e Número Sonia Bone Guajajara, coordenadora executiva da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), entidade que organiza a marcha.  Cerca de 448 mil mulheres indígenas vivem no Brasil, entre 305 povos espalhados pelo território nacional, segundo o IBGE (2010).

O objetivo é reivindicar direitos e também criar um ambiente de referência nacional para as indígenas. Para ser viabilizado, o evento contou com com financiamento coletivo. 

Os temas da Marcha das Mulheres Indígenas serão território, corpo e espírito, que, segundo Guajajara, são elementos que definem o ser indígena. “O território é o que garante a nossa vida. O nosso corpo é o que está em jogo, é o que está sendo alvo de violência. E o espírito é a nossa identidade, nossa conexão com a ancestralidade que garante a força da cultura para seguir na resistência. E essas questões se relacionam porque quando homens invadem nossos territórios, atingem diretamente nosso corpo e nossa identidade”, pontua.

Segundo o projeto Vozes das Mulheres Indígenas, implementado pela ONU Mulheres em cooperação com a Embaixada da Noruega, violações do direito à saúde, educação e segurança, além de sustentabilidade e economia são questões relevantes para as mulheres indígenas. O projeto reuniu informações sobre comunidades indígenas por todo o Brasil e constituiu uma pauta nacional comum das mulheres indígenas brasileiras. No entanto, segundo Guajajara, o principal tema, transversal aos povos indígenas, é mesmo o direito à terra: “A gente não consegue pensar pautas específicas das mulheres indígenas se não temos a garantia do território. Portanto, essa questão continua sendo a maior bandeira para todos os povos indígenas”. 

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Demarcação do território

No início do mês, o Supremo Tribunal Federal (STF) manteve a suspensão da medida provisória que  transferiu a demarcação de terras indígenas para o Ministério da Agricultura. Com determinação do STF, a demarcação voltou a ser atribuição da Fundação Nacional do Índio (Funai), ligada ao Ministério da Justiça.

“A decisão do STF é uma vitória e continuamos lutando pela demarcação de terras indígenas, porque ela está ameaçada. O presidente já disse, desde o período da campanha, que iria acabar com as demarcações. As demarcações são um direito garantido na Constituição Federal e não uma decisão do governo”, aponta Guajajara.

As denúncias de invasão de territórios indígenas têm sido recorrentes desde o início do ano. Em julho, o conselho da etnia Waiãpi denunciou a invasão da Terra Indígena Waiãpi, no oeste do Amapá, e o assassinato  do cacique Emyra Waiãpi no local. Agentes da Polícia Federal e da Secretaria de Segurança Pública do Amapá não encontraram a presença de garimpeiros e invasores na região

Para Guajajara, o aumento de casos de invasões e conflitos em terras indígenas está relacionado à forma como o governo Bolsonaro se posiciona sobre as questões indígenas: “Tanto as decisões quanto os discursos do governo federal incitam o ódio e a violência contra os povos indígenas”, define. 

*Vitória Régia da Silva é repórter da Gênero e Número

Vitória Régia da Silva

É jornalista formada pela ECO/UFRJ e pós graduanda em Escrita Criativa, Roteiro e Multiplataforma pela Novoeste. Além de jornalista, também atua na área de pesquisa e roteiro para podcast e documentário. É Presidente e Diretora de Conteúdo da Associação Gênero e Número, onde trabalha há mais de sete anos. Já escreveu reportagens e artigos em diversos veículos no Brasil e no exterior, como o HuffPost Brasil, I hate flash, SPEX (Alemanha) e Gucci Equilibrium. É uma das autoras do livro "Capitolina: o mundo é das garotas" [ed. Seguinte] e colaborou com o livro "Explosão Feminista" [Ed. Companhia das Letras] de Heloisa Buarque de Holanda.

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