As cadeiras do Legislativo deveriam ser igualmente divididas entre homens e mulheres. Isto é o que acreditam 77% dos entrevistados na nova pesquisa Ibope/ONU Mulheres, que conta com parceria do Instituto Patrícia Galvão, divulgada nesta sexta-feira (14/09). De acordo com os resultados, os brasileiros que mais concordam totalmente com esta afirmação são mulheres, pertencentes às classes D e E, moradores do interior e da região Nordeste, com ensino fundamental completo. Foram entrevistadas 2.002 pessoas em 141 municípios brasileiros, entre 16 e 20 de agosto.
Entre os homens, 71% dos entrevistados concordam total ou parcialmente com a afirmação “Deveria ser obrigatório que as câmaras de vereadores, assembleias legislativas estaduais e o Congresso Nacional tivessem metade de homens e metade de mulheres”. As mulheres que concordam totalmente são 60%, e as que concordam parcialmente são 22%, portanto elas somam 82%, uma diferença considerável, de onze pontos percentuais, na percepção sobre uma possível obrigatoriedade. Os homens que discordam totalmente da divisão igualitária são 14%, quase três vezes o número de pontos percentuais de mulheres que têm a mesma opinião, que são 5%.
Este cenário deveria apontar uma mudança nas próximas eleições, em relação a quem ocupará as cadeiras nas assembleias legislativas e no Congresso Nacional, mas a pesquisadora Debora Thome, mestre em ciência política pelo IESP/UERJ e coautora do livro Mulheres no Poder: História, Ideia e Indicadores, avalia que há necessidade de analisar os dados não isoladamente, mas junto à estrutura que impede a paridade.
“Várias evidências mostram que as mulheres não teriam problemas para se eleger. Mas para você ter paridade, 40% do Congresso teria que abrir mão da própria cadeira, são eles que votam e eles mesmo não deixam passar [cotas paritárias]. É difícil um legislador votar contra si mesmo”, afirma.
Thome também analisa como as instituições políticas dificultam a penetração de mulheres no Legislativo. Para ela, é necessário olhar “para dentro do Congresso e dos partidos” e compreender o fenômeno que implica em baixo índice de mulheres eleitas.