Sobre ler e escrever capítulos olímpicos olhando para as questões de gênero

  • Expediente

    ver mais

Na Rio-2016, Lea T foi a primeira transexual a ter destaque numa cerimônia de abertura olímpica, à frente da delegação brasileira. É um avanço, mas nos dias que seguem você não vai ver nenhum trans em ação na competição. É que, longe de um Maracanã festivo e glamuroso, eles ainda lutam, cotidianamente, pela sobrevivência e por um lugar ao sol numa sociedade que insiste em marginalizá-los.

Não seria preciso esperar uma olimpíada começar para escancarar e debater as diferenças de gênero e as violações que mulheres e transexuais enfrentam no dia-a-dia. Fatos e dados que ilustram essa realidade aparecem desde as categorias de base às profissionais; ali no clube próximo à sua casa ou em centros de treinamento de seleções brasileiras; nos países sob regimes ditatoriais e nas mais avançadas democracias. Mas quando uma edição dos Jogos Olímpicos tem início, um novo capítulo da construção de gênero no esporte também passa a ser escrito. As categorias feminino e masculino, presentes em quase todas as modalidades olímpicas, escancaram estereótipos de uma sociedade construída sob a dualidade de gênero que há séculos insiste em reforçar uma “natural” supremacia masculina. Homens: fortes, mais agressivos, mais aptos à prática esportiva, mais propensos ao desenvolvimento dos músculos. Mulheres: mais frágeis, mais sensíveis, responsáveis pela reprodução da espécie e, por isso, com a inerente obrigação de manter o corpo sob condições que favoreçam a reprodutividade.

É sobre esses padrões e assimetrias de gênero ainda tão arraigados nas quadras, piscinas, pistas e bastidores do esporte que a Gênero e Número, a nova revista da web brasileira, trata em sua estreia, com suporte de dados levantados em uma rigorosa apuração jornalística. Convidamos você a entender como alguns dados ajudam a explicar que o esporte, assim como as olimpíadas, foi criado por e para os homens.

Exagero? Na primeira edição dos Jogos, em 1896, as mulheres sequer competiam. De lá para cá, sabe-se, elas rasgaram sutiãs e muito mais: ganharam medalhas, quebraram recordes mundiais, enfrentaram hierarquias machistas. Mas a luta é diária.

Em 1932, ano de conquista do voto feminino no Brasil, a nadadora Maria Lenk fez história como a primeira sul-americana a participar de uma olimpíada, reforçando estatísticas de representatividade feminina nos Jogos tão bem explorada na reportagem “A maratona olímpica das mulheres”. Já em 2016, elas ainda brigam para disputar todas as modalidades, como mostra a reportagem “Por que não há mulheres na canoa olímpica?”. É inegável que nesse intervalo a condição das mulheres se tornou mais digna no esporte, resultado de muito suor fora e dentro das quadras, como pode ser comprovado na reportagem “No quadro de medalhas, latino-americanas crescem e aparecem”. Mas os padrões seguem à espreita, ou nem tanto, como escancaram a reportagem “Mulheres recebem menos na maioria dos esportes” e a videoreportagem “Mania de musa: As atletas segundo a mídia esportiva que mostra como a representação das atletas pela mídia ainda as objetifica, em vez de destacá-las por seus feitos esportivos.

Na Rio-2016, as mulheres escrevem mais um capítulo rumo à equidade. E contam com o discurso político a seu favor. O COI (Comitê Olímpico Internacional) incorporou, desde 1996, quando realizou a 1ª Conferência Mullheres e Esporte, na Suíça, o compromisso de promover a maior presença e liderança delas na área. As atletas contam ainda com um movimento feminista vibrante em expansão e agências internacionais de direitos humano atentas à importância do esporte na busca pela redução das diferenças. Sob a ótica do jornalismo independente e de dados, a Gênero e Número chega para dar a sua contribuição.

Seja bem-vind@ e acompanhe o Gênero e Número também no Twitter, Facebook e Instagram,

Giulliana Bianconi, Maria Lutterbach e Natália Mazotte

Expediente

Edição:

Giulliana Bianconi, Maria Lutterbach e Natália Mazotte

Reportagem:

Giulliana Bianconi

Isis Reis

Maria Lutterbach

Mariana Bastos

Natália Mazotte

Coordenação de dados:

Natália Mazotte

Direção de arte:

Maria Lutterbach

Programação:

Álvaro Justen

Design e programação – Visualização:

Carol Rozendo

Assistência editorial:

Isis Reis

Roteiro, edição e locução do vídeo

Maria Lutterbach

Animação e finalização do vídeo:

Luciano Gomes

Filmagem e som direto:

Miguel Pinheiro

Sound design:

Helena Duarte

Colaboração:

Marco Túlio Pires

Se você chegou até aqui, apoie nosso trabalho.

Você é fundamental para seguirmos com o nosso trabalho, produzindo o jornalismo urgente que fazemos, que revela, com análises, dados e contexto, as questões críticas das desigualdades de raça e de gênero no país.

Somos jornalistas, designers, cientistas de dados e pesquisadoras que produzem informação de qualidade para embasar discursos de mudança. São muitos padrões e estereótipos que precisam ser desnaturalizados.

A Gênero e Número é uma empresa social sem fins lucrativos que não coleta seus dados, não vende anúncio para garantir independência editorial e não atende a interesses de grandes empresas de mídia.

Quero apoiar ver mais