Em Limoeiro, no agreste de Pernambuco, a dona de casa K.M.C* foi candidata a vereadora em 2016 pelo PR (Partido da República). Obteve somente dois votos, sendo a terceira menos votada na cidade. Mesmo com o resultado pífio, ela agora é candidata a deputada federal, como mostram os registros do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) acessados pela Gênero e Número. Também com apenas dois votos em 2016, a candidata B.L*, do PMN, ficou totalmente à margem da disputa por uma cadeira na Câmara Municipal de Araguari (MG), tendo terminado em 227º numa lista de 235 candidatos à vereança. Agora, vai concorrer como deputada federal. Já em Cruzeiro do Sul (AC), I.F.S* amargou um voto nas eleições passadas, quando esteve registrada como candidata a vereadora pelo PC do B, e nestas eleições aparece como candidata a deputada estadual.
K.M.C, no Nordeste, B.L, no Sudeste e I.F.S no Norte fazem parte do “fenômeno dona de casa”, observado em todas as regiões desde as eleições de 2010, quando passou a ser obrigatório aos partidos cumprirem cota mínima de 30% de candidatas. E são evidências, mesmo antes do resultado das eleições 2018, de que os partidos seguem praticando a inscrição de candidatas que não têm nenhuma conexão com a vida política ou com uma candidatura real. São as chamadas laranjas, que entram para cumprir cota.
No grupo analisado pela Gênero e Número, o das donas de casa, é possível ver como a presença dessas candidatas nas eleições gerais saltou justamente a partir de 2010 (ver na imagem abaixo). Mesmo com a queda que é possível perceber das eleições anteriores para esta, a proporção de donas de casa em 2018 ainda representa quase o dobro do que foi observado em 2006.
Quando se opta por filtrar os cargos, percebe-se que em alguns anos, a partir de 2010, a proporção de donas de casa é maior para deputada estadual ou federal (onde a lei incide, justamente na disputa de cargos proporcionais) do que quando analisado o cenário de todos os cargos em disputa.
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