Anote este nome: Gisela Simona, candidata a prefeita em Cuiabá

A Gênero e Número apresenta quinzenalmente a entrevista de uma mulher que irá disputar as eleições 2020 e que merece ficar no seu radar

Por Lola Ferreira*

"Além de mulher, sou negra, e enfrento esse duplo desafio, mas as mulheres me encorajam" | Foto: Helder Faria / ALMT

Gisela Simona é a única mulher concorrendo à prefeitura de Cuiabá em 2020. Candidata pelo PROS, ela pretende ser a primeira mulher a comandar o Executivo da capital de Mato Grosso. Com atuação de mais de uma década no Procon do estado, ela conta que decidiu ampliar a ajuda que dava aos consumidores. A disputa por enquanto é liderada por dois homens, segundo a pesquisa mais recente do Ibope: Emanuel Pinheiro (MDB) e Roberto França (Patriota). Simona aparece em quarto nas intenções de voto. 

Ser a única entre tantos homens, diz, a faz olhar de forma específica para pautas das mulheres. Entre suas propostas, creches abertas em todos os horários, para atender mães que trabalham na madrugada, e um Hospital da Mulher completo. Membro de um partido do Centrão, ela também adota o combate à corrupção como uma de suas prioridades. E em ano de queimadas recordes no Pantanal, analisa como pode ser a atuação do município para preservar o bioma.

“Faz toda a diferença quando percebemos que as candidaturas masculinas não destacam temas relacionados à mulher. Eu tenho a sensibilidade de saber a dor de uma mãe numa fila de saúde ou que precisa levar seu filho para a sua barraca na feira, ainda de madrugada”.

Conheça a candidata.

Como foi sua trajetória política?

Eu tenho uma história de trabalho no Procon/MT. Trabalhei durante 12 anos em defesa dos consumidores. Mas como o Procon tem uma limitação de atuação, surgiu a vontade de participar do processo político para fazer mais pela população da cidade. Em 2018 fui candidata à deputada federal e fui 1ª suplente do estado, com mais de 50 mil votos. Houve essa receptividade da população, e de lá para cá eu me preparei para estar candidata a prefeita de Cuiabá. 

Hoje sou presidente do partido no município, e me empenhei em montar uma chapa de candidatos a vereadores composta por pessoas que têm serviços prestados para a nossa cidade. E é um grupo devidamente representado por homens, mulheres, brancos, negros. É isso que hoje me traz como candidata.

 

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Sendo a única mulher na disputa, como se destacar na campanha e ser a primeira prefeita de Cuiabá?

As mulheres sabem da luta que é para vencer o preconceito e esse conservadorismo muito presente na nossa sociedade. Além de mulher, sou negra, e enfrento esse duplo desafio, mas as mulheres me encorajam. Essas mulheres que marcam presença nas atividades me impulsionam a brigar pela vitória. É com o apoio das mulheres que estamos numa crescente nas intenções de voto, e assim mais pessoas conhecem as nossas propostas.

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E quais são as suas principais propostas?

Nosso primeiro ponto é o combate à corrupção. Mas temos um tripé fundamental, que é a saúde, a mobilidade urbana e a atenção ao transporte coletivo, e a política de valorização das mulheres. Este ponto é muito especial, porque buscamos mais orçamento e possibilidade de executar políticas públicas dentro da Secretaria da Mulher. Quero criar o Hospital da Mulher em Cuiabá, para atender desde casos de câncer até mulheres vítimas de violência doméstica. Ainda neste assunto, é preciso investir em uma casa de amparo à mulher vítima, para ter abrigo quando sair da casa em que morava com o agressor. Hoje a estrutura para acolhimento é mínima. 

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As creches 24 horas também são importantes para as mães trabalhadoras, principalmente aquelas que trabalham à noite ou de madrugada, como feirantes e estudantes noturnas. E a creche adequada também facilita no orçamento doméstico, pois permite que as mulheres trabalhem. 

Faz toda a diferença quando percebemos que as candidaturas masculinas nao destacam temas relacionados às mulheres. Eu tenho a sensibilidade de saber a dor de uma mãe numa fila de saúde ou que precisa levar seu filho para a sua barraca na feira, ainda de madrugada.

 

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Neste ano, os recordes de queimadas na região do Pantanal têm ganhado destaque na mídia. Como enfrentar este problema em uma cidade tão afetada como Cuiabá, num eventual mandato?

É um problema que já temos aqui, de maio a outubro há queimadas em todos os anos. Precisamos tentar combater o aumento da temperatura, com maior arborização da cidade, replantar árvores. Em relaçao às queimadas, há uma grande expectativa de ação do Corpo de Bombeiros e o município apenas observa. Mas há uma responsabilidade do município em implementar melhores recursos para a Defesa Civil municipal combater queimadas e fazer o monitoramento dos focos, além de usar a tecnologia a nosso favor. Hoje o reconhecimento já é quando o fogo está avançado. Com poucos instrumentos, é difícil combater os primeiros focos de incêndio. 

Há também uma outra ação, que é educativa, nas escolas, para diminuir os focos causados por situações de área urbana, como colocar fogo em lixo ou jogar bituca de cigarro aceso nas matas. Parte delas pode ser controlada com educação.

 

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Por que o eleitor de Cuiabá precisa conhecer você e suas propostas de campanha?

Eu convido a fazer uma análise da minha história de vida e de trabalho, e com todos os candidatos. Eu tenho um passado de prestação de serviço, mãos limpas, honestidade pela cidade e isso é de extrema relevância numa gestão para que tenhamos o dinheiro público investido de maneira correta na vida das pessoas. Eu quero ser a primeira prefeita.

*Lola Ferreira é repórter da Gênero e Número.

Lola Ferreira

Formada pela PUC-Rio, foi fellow 2021 do programa Dart Center for Journalism & Trauma, da Escola de Jornalismo da Universidade de Columbia. Escreveu o manual de "Boas Práticas na Cobertura da Violência Contra a Mulher", publicado em Universa. Já passou por Gênero e Número, HuffPost Brasil, Record TV e Portal R7.

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